O universo feminino nos mitos gregos: Penélope

 

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Penélope

 

Os mitos são construções da humanidade que nos mobilizam emocionalmente quando reconhecemos em suas lendas, algo semelhante com as nossas experiências cotidianas. Os mitos também são considerados formas de conhecimento, portanto, é um elemento essencial porque nos aponta para os caminhos de transformação, sem realçar a culpa para não torná-la insuportável.

A flexibilidade que o mito propõe permite o processo de conscientização dos atos dos homens e dos personagens míticos, que são aos exageros ou desmetidas dos próprios deuses e dos homens e os castigos que recebem quando não compreendem o sentido evolutivo da vida. O sofrimento que pode ocorrer neste processo leva a tomada de consciência de que foram os desejos exaltados (hybris em grego), que provocaram a angústia e a culpa e o desviou do seu destino.

A tragédia ocorre com a ultrapassagem do metron pelo homem, uma transgressão contra a ordem social e, portanto, contra os deuses imortais: a hybris. Isto origina a nêmesis, o ciúme divino, provocando que seja lançada contra o herói a Até, a cegueira da razão. Ele virá a ser subjugado sem apelo pela moira, o destino cego. (Wikipédia, acesso em 27/02/2015)

Para o filósofo e psicólogo francês, Paul Diel (1893-1972), os mitos falam do destino humano: “Os mitos falam do destino do homem sob o seu aspecto essencial; destino resultante do funcionamento sadio ou doentio (evolutivo ou involutivo) do psiquismo”. (Diel, 1991, p. 13)

A mitologia é o estudo dos mitos, analisados em termos de tempo e espaço, dentro de uma visão histórico-cultural, lembrando-se que esse conteúdo do mito terá sempre, uma metafísica e uma ética, onde os valores essenciais do homem aparecerão como parâmetros que possibilitam a sobrevivência e a vida em comum. Portanto, o valor do mito está em descrever uma lenda universal, ou seja, comum a todos os homens.

 

O mito de Penélope e Ulisses

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Ulisses e Penélope

 

Para os mitólogos, Penélope (ganso selvagem) era filha da ninfa Peribéia e de Icário, irmão de Tíndaro, rei de Esparta. A jovem era portadora de muita beleza e o seu pai, que era um corredor campeão, não iria permitiria que ninguém se casasse com sua filha, a menos que pudesse vencê-lo em uma corrida. Ulisses (Odisseu em grego) o fez com sucesso e casou-se com Penélope.

Depois que eles se casaram, Icaro tentou convencer o genro a permanecer em Esparta. O herói disse a esposa que ela devia escolher se desejava ficar com o pai ou com o marido. A esposa não respondeu, mas modestamente cobriu o rosto com um véu.

Icário entendeu que o seu gesto era um sinal de sua vontade de sair com o marido e deixou-os ir e ergueu uma estátua de Aidos (modéstia) no local.

Penélope teve apenas um filho com Ulisses, Telêmaco, que nasceu um ano antes de seu marido ser chamado para lutar na Guerra de Tróia.

Os anos passavam e ela não havia notícia de Ulisses e o seu pai sugeriu que ela se casasse novamente. Ela era fiel ao seu marido, então recusou a proposta dizendo que esperaria o marido até a sua volta. Porém, diante da insistência do pai e para não desagradá-lo, ela resolveu aceitar a corte dos pretendentes à sua mão, estabelecendo a condição de que o novo casamento somente aconteceria depois que terminasse de tecer um tapete para o pai de Ulisses. O plano arquitetado por ela ajudou-a a manter distância do assédio que era constante.

Durante os vinte anos em que Ulisses esteve ausente em virtude da Guerra de Tróia (veja neste blog o artigo sobre a guerra), ela foi praticamente a única que não sucumbiu à solidão entre as mulheres dos heróis que participaram de tal guerra.

 

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A espera de Penélope

A lenda de Ulisses é narrada na obra Odisséia, de Homero, o poeta cego que viveu durante o século VIII a.C. O herói grego não desejava participar da guerra e o motivo não era a falta de valentia, mas o amor que nutria pela esposa e o filho. Mas, ele foi forçado a partir para Tróia.

No seu caminho de volta para Ítaca, depois da guerra e também depois de enfrentar muitos perigos entre os quais as criaturas monstruosas, ele encontra o seu maior desafio quando encontra sua esposa cercada de pretendes que o imaginam morto. (Wilkinson, 2013, p. 64)

 

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Penélope e os pretendentes

 

O retorno de Ulisses na sua cidade natal foi difícil, porque o herói encontrava-se ferido e envelhecido e não foi reconhecido, sendo que ele só se revelou ao filho Telêmaco.

Penélope logo o reconheceu e os pretendentes que ali se encontravam abandonaram a ideia de pedir em casamento a esposa do herói que ultrapassou tantas dificuldades na famosa Guerra de Tróia. Penélope é considerada o arquétipo da esposa ideal. A esposa de Ulisses, cuja fidelidade conjugal lhe trouxe fama a tornou universalmente célebre na lenda e na literatura antiga do mundo grego.

Homero é considerado um dos maiores escritores do mundo e sua obra tornou-se popular e o seu conteúdo inspirou outros autores modernos como James Joyce e a sua obra Ulisses.

Referência bibliográfica:

DIEL, Paul. O simbolismo na mitologia grega. São Paulo: Attar, 1991.

WILKINSON, Philip. Mitos & Lendas. São Paulo: Martins Fontes, 2013.

Comentários

Unknown disse…
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