Um filme por dia 2017 - 04/05 - Corra! (2017)



Título original: Get Out
Utilizando o formato de filme de horror, Corra! trata do modo como o racismo está enraizado nos pequenos atos, além de mostrar outras modalidades do preconceito através de estereótipos raciais - o negro atlético, o negro máquina sexual. Mantendo o clima de tensão todo o tempo, peca apenas em pequenos detalhes que poderiam ter sido facilmente evitados.
Chris (Daniel Kaluuya) namora com Rose (Allison Williams) e vai até a casa dos pais da moça para conhecê-los. A família branca vende a ideia de liberalidade, progressismo e tolerância mas Chris logo percebe que tudo soa artificial e alguma coisa está errada. É notável como a tensão está presente em todos os momentos e a sensação de que Chris corre grande perigo é palpável.
É impossível transmitir ou simular o que sente uma vítima de preconceito, mas o filme consegue de certa forma emular a sensação e em vários momentos sentimos o desconforto e o medo de Chris. O preconceito não violento, aqueles olhos seguindo a vítima, como um garoto negro sendo vigiado por seguranças em uma loja de grife, é mostrado de forma eficiente mas não só esse. O outro, aquele que muitos consideram erroneamente como um elogio, o estereótipo que torna o indivíduo unidimensional: o negro atleta, que tem supostamente a genética em seu favor e deve aproveitar isso, o negro garanhão, que deve satisfazer toda e qualquer mulher que aparecer pela frente. Isso diminui o indivíduo pois não dá a ele a escolha de ser o que quer, como odiar esportes ou ser romântico por exemplo.
Por trás desses notáveis signos, temos uma obra extremamente eficiente em nos deixar grudados na cadeira. A parte final perde um pouco a força, tanto pelo fim dos mistérios como por algumas soluções simplistas e ilógicas para chegarmos a conclusão, como as fotos esclarecedoras encontradas por um personagem quase que por milagre ou a forma como o mesmo personagem foge do seu cativeiro tendo as mãos imobilizadas. Mais do que simplistas, esse tipo de artifício acaba destruindo a imersão e nos lembra que tudo aquilo é apenas um filme. Mas no final das contas, mesmo que imperfeito, Corra! consegue a façanha de ser um horror eficiente com uma certa profundidade social, caso raro nesse gênero.
Nota: 4/5


Fabio Consiglio

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