Não diga que não avisei... O Projeto Adam (2022)




Viajar no tempo é um dos maiores sonhos humanos, perdendo talvez apenas para o desejo de imortalidade. Por nos proporcionar desfrutar dessa fantasia, filmes de viagem no tempo são ao menos interessantes (quando não muito bons), prendendo a atenção dos espectadores proporcionando projeções bastante claras: ter informações privilegiadas do futuro e ficar milionário como Biff em De Volta para o Futuro II (1989), encontrar-se com um amor de outra época como Richard Collier de Em Algum Lugar do Passado (1980) ou mesmo corrigir erros do passado para consertar o curso da sua família como em Efeito Borboleta (2004).

Por que então O Projeto Adam (2022), mesmo tratando de viagem no tempo, é um filme enfadonho e desinteressante? Porque O Projeto Adam não é um filme do subgênero da ficção científica que trata sobre viagem do tempo, sendo na verdade uma obra do subgênero “filme do Ryan Reynolds”.

Nessa produção da Netflix não temos apenas um Ryan Reynolds, mas dois: o adulto e sua versão infantil, com os mesmos trejeitos e piadas sem graça – agora notei que é o segundo filme seguido de Reynolds que temos duas versões dele, há uma versão (mais) abobalhada do ator no também horroroso Free Guy:Assumindo o Controle (2021).

Para os corajosos que assistirem a O Projeto Adam, além de ter que suportar a persona cinematográfica de Reynolds – um Deadpool sem uniforme e poderes – vai ter que aguentar o roteiro cheio de furos, que inventa regras em seu universo a todo instante apenas para justificar um novo desdobramento inverossímil. Claro que além disso temos o desenho de produção sem criatividade e os clichês mal utilizados e beirando o insuportável: o garoto “heroi” asmático e que sofre bullying, a casa da família no meio de uma floresta para que nenhuma autoridade como polícia ou bombeiros se intrometa, o vilão que gosta mais de falar e explicar tudo ao invés de atirar de uma vez.

Outra coisa bastante incômoda é como a violência é tratada; observando-se a história de forma pragmática, dezenas de pessoas são mortas. Porém essas “pessoas” não têm rosto, pois são capangas sempre vestindo um uniforme que inclui um capacete. Para completar a desumanização – e tornar o filme palatável para as pobres criancinhas – quando eles morrem os corpos transformam-se em uma poeira colorida, que é explicada de forma ridícula: morrer fora do seu tempo original tem efeitos estranhos. A estória parece ter sido escrita para o público infanto-juvenil por roteiristas infanto-juvenis.

Os últimos dez minutos de O Projeto Adam não são tão ruins como o resto, mostrando a redenção e destino dos personagens de uma forma, mesmo que previsível e clichê, “fofa” digamos assim. O grande problema é resistir à tentação de parar de assistir ao filme durante os outros 90 minutos. Deveria ter feito isso, ao menos dessa forma mostraria para a Netflix, através de seus algoritmos de retenção, que O Projeto Adam jogou no lixo os 175 milhões de dólares destinados à sua produção.


Nota: 2/5


Não diga que não avisei...

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