08 DE MARÇO DIA INTERNACIONAL DA MULHER: MEU CORPO MINHA BATALHA E O CINEMA DE PEDRO ALMODÓVAR

 

Rosângela Canassa

 

Sigmund Freud foi um estudioso da cultura em conjunto com a psicanálise e os reflexos na sociedade vienense. Ele conheceu as mulheres vitorianas e sua relação com o corpo físico e a fala que pode conduzi-lo em seus estudos em direção ao inconsciente, no que resultou na sua compreensão sobre trauma, histeria e fantasia feminina. Depois dos estudos de Freud, as mulheres obtiveram o direito ao voto e ao trabalho.

Após os anos 60/70 do século passado, a aceleração do processo de emancipação da mulher, o movimento feminista aliado às crescentes conquistas técnico-científicas, o advento da pílula, a reprodução assistida e as intervenções cirúrgicas no plano da estética, tem feito surgir novas formas de subjetivação e formação psíquica na mulher. Porém, só resta agora a mulher a conquista do direito a dispor de seu corpo e de sua sexualidade como bem quiser.

No cinema, a ideia de Pedro Almodóvar é de contextualizar a mulher ou homem sem identidade fixa, permanente e na sua identidade cambiante ambos podem se transformar, se ressignificar para encontrar o seu melhor caminho no mundo. E no mês da mulher apresento alguns filmes do cineasta para homenagear o feminino nos nossos dias em que o seu corpo seja a sua batalha.

O filme Volver (2006) traz a marca do estilo de Pedro Almodóvar, que retorna ao passado e encontra nas lembranças de sua infância, vizinhas, as mulheres sofridas e marcantes em sua vida para narrar a história de Irene (Carmem Maura, a atriz do filme Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos, de 1988). E ao retornar em La Mancha para a realização da filmagem ele reviu as mulheres da sua aldeia e fez questão de convidá-las para participarem do filme. Portanto, elas são figurantes e moram na cidade e continuam cuidando dos túmulos dos familiares.

A cena inicial do filme, acompanha um grupo de viúvas e órfãs limpando os túmulos de seus entes queridos no cemitério de La Mancha, sob o vento Leste que, dizem que perturba os vivos e os espíritos. Os habitantes da cidade dizem que o vento leste deixa as pessoas com problemas mentais e existe um alto índice de insanidade na região por causa do vento, que também é responsável por diversos incêndios que devastam a área em todos os verões.

O filme se passa nos tempos atuais e Penélope Cruz estrela a fita no papel de Raimunda. A heroína é filha mais nova de Irene, uma jovem bonita e sedutora, mas emocionalmente frágil, que guarda um segredo de família. Ela vive com um marido desempregado (Antonio De La torre) e uma filha (Yohana Cobo) em plena adolescência. As finanças da família não vão bem, portanto, a protagonista acumula vários empregos. Ela possui um talento para o canto e a culinária. Ela mata o marido após descobrir que ele tentou abusar de sua filha e esconde o corpo no refrigerador do restaurante onde trabalha. Enquanto isso busca fugir das implicações do crime, ela tenta entender um fenômeno inexplicável, que é a volta de sua mãe (Carmen Maura) do mundo dos mortos. O filme inclui o imaginário popular que é rico em histórias de sobrenatural, onde os mortos se levantam de suas tumbas para resolver pendências com os vivos. Leia mais em: www.laschicasdealmodovar.blogspot.com.br

 A partir da profissionalização do seu cinema, o diretor passou a recorrer a estilistas famosos para criarem roupas originais, que expressassem o jeito de ser das personagens. Mas, o talento dos figurinistas de Almodóvar não consiste somente na criação de roupas originais, mas também da reutilização e invenção de estilos particulares com base em peças já existentes (Coleção Folha Cine Europeu, 2011, p. 58).

A maquiagem e os cabelos que compõem a figura da personagem Raimunda foram inspirados nas divas italianas. A escolha das roupas faz parte da construção dos personagens de uma maneira especial. No início era o próprio Almodóvar e seus amigos, que decidiam o que o elenco usaria, emprestando, às vezes, peças do próprio vestuário.

 O cineasta é um retratista da sociedade espanhola contemporânea e ao trazer suas mulheres passionais, vingativas, emotivas, fortes, com seus fetiches e desejos mostra o seu modo peculiar de tratar o universo feminino.

O arquétipo materno também é marca do diretor, que dirigiu com muita sensibilidade e as faces do feminino no universo familiar, os laços de família na relação entre as duas irmãs Raimunda e Sole e o súbito reaparecimento da figura materna, que deixa as duas mulheres atordoadas como se tivessem que conviver com um fantasma dentro de casa.  O perfil de cada personagem acaba brotando de suas roupas, como um objeto de comunicação não verbal. As cores e sua intensidade entre os risos e as lágrimas com suas personagens.

  

Ficha técnica do filme:

Título: Volver

Direção: Pedro Almodóvar

Ano: 2006

País: Espanha

Elenco: Carmem Maura, Penélope Cruz, Lola Duenãs, Blanca Portilho, Yohana Cobo e Chus Lampreave.

 

 


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