Análise fílmica: “Orfeu” uma tragédia carioca

 

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“Quem mora no morro vive pertinho do céu”

(canção de Herivelto Martins)

 

O filme do diretor Carlos Diegues deriva da peça Orfeu da Conceição de Vinícius de Morais, que foi escrita em 1954 e foi encenada pela primeira vez em 1956. A escolha do elenco mestiço de se deve a intenção de adequar a história à atualidade da favela real, como umas recomendações do autor da história, Vinícius de Moraes.

O filme conta a história do jovem líder de Escola de Samba, Orfeu. Ele não tem sobrenome, é simplesmente Orfeu, um jovem poeta e compositor que mora com os pais numa favela e que compõe os seus sambas-enredo em seu laptop e faz o tipo de bem com a vida.

O poder de Orfeu de fazer o sol nascer ao cantar surge nas primeiras cenas do filme e ocorre de acordo com o mito grego de Orfeu. As crianças pedem para que ele toque para o sol nascer. Os pássaros param para escutar, as árvores se curvam para pegar os sons, que o vento traz com a sua música contagiante.

Orfeu é uma espécie de dândi e exibe uma coleção de camisas e ternos finos, os cabelos cuidadosamente trabalhados em trancinhas, óculos de leitura que lhe dão um ar intelectualizado, celular sempre na mão como um executivo e um laptop de última geração. (Nagib, 2006, p. 122)

 

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Orfeu tema a fama na favela de ser o “conquistador de mulheres”. Ele não se preocupa com isso, acha que tudo pode porque é merecedor, ele diz: “Deus gosta de mim”.

Mira é namorada de Orfeu que foi capa da revista Playboy, mas logo é substituída ela prima Eurídece.

 

 

Eurídece chega de avião e Diegues usa a técnica clássica ao mostrar a baía e o Cristo Redentor, antes de a câmera mergulhar em direção a uma favela, que é o cenário da ação. (Rodrigues, 2008, p. 148)

 

 

01 Orfeu Cacá Diegues 1999 Filme Movie Film Cinema Nacional Brasileiro Brazilian O Teatro Da Vida

 

A prima adolescente que chega do Acre perdeu o pai e a mãe e vem morar com a tia na mesma favela de Orfeu.

Eurídece aos poucos vai se apaixonando por Orfeu que corresponde ao seu amor, mas causa muito ciúmes em Mira.

 

casal

 

Orfeu se prepara para a magia do carnaval que contagia a todos os moradores da favela, mas não deixa de ser um contraste com a violência do bandido e da polícia, que se opõe aos quatro dias de festa na Sapucaí.

 

 

A favela no cinema brasileiro

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A favela é um microcosmo de uma sociedade com muitas diferenças sociais e que se converge com o samba, a música, o tráfico e o crime.

A partir dos anos 90, os filmes ressaltavam o orgulho de ser favelado, mesmo convivendo com todas as suas adversidades e o personagem Orfeu (1999) é o retrato fiel desta época. (Nagib, 2006, p. 133)

A favela é constituída de modo a evidenciar e estilizar a cor local, aqui tomada no sentido literal do colorido das pichações, das fachadas e das casas. As escadarias labirínticas, os imundos esgotos e depósitos de lixo de certa maneira contribuem para o colorido geral da “mistura brasileira”, que compõe o morro. (Nagib, 2006, p. 137)

Na linha evolutiva do cinema, segundo o cineasta, crítico e historiador Alex Viany, os elementos que caracterizam o cinema carioca são: o samba, o negro e a favela. (Socine, 2005, p. 229).

O visual do filme é rico em detalhes das favelas coloridas, com plantas, as imagens de santos na parede, mas que não protegem o morador contra os tiros e balas perdidas.

O cenário foi realizado no interior de várias favelas cariocas com base nas aptidões cenográficas encontradas em cada uma delas. (Rodrigues, 2008, p. 148)

A partir das migrações desordenadas e a superpopulação nas favelas cariocas surgiram a violência, a criminalidade e o tráfico. A rotina dos moradores também mudou. O vendedor de amendoim continua com a sua venda, mas acrescida de um pacotinho de maconha ou até de armas.

A justiça é feita pelas mãos dos traficantes que tomam conta da favela e com toda a brutalidade e a barbárie da lei do cão, matam e queimam os corpos.

Diegues mesmo tendo como referência a obra de Vinícius de Moraes acrescentou o realismo à tragédia mitológica, no ambiente da favela e da violência.

 

Orfeu e Lucinho: a morte anunciada

Os traficantes

 

O personagem Lucinho é do alto escalão do crime organizado e ele está envolvido no tráfico de drogas. Ele é incapaz de compreender a dimensão de sua responsabilidade dentro daquela favela.

O romance de Orfeu e Eurídece causa ciúmes em Lucinho que manda matar o amigo de infância, enquanto ele desfila na passarela do samba, mas o homicídio é cancelado no último minuto. O matador muda de ideia, como se a amizade da infância e o mágico poder do Carnaval tivessem o poder de deter a morte, da mesma maneira que o Orfeu da mitologia grega amansava as feras com a sua música.

O conflito entre Lucinho e Orfeu permite individualizar o bem (a música, a escola de samba) e o mal (o tráfico e a criminalidade), cuja técnica é clássica no cinema dos amigos, um que enveredou para o bom caminho e o outro para o mau. (Rodrigues, 2008, p. 148)

No filme de Diegues ocorrem alguns momentos como a célebre cena da chanchada “Carnaval Atlântida” de José Carlos Burle e Carlos Manga (1952), que é mostrada na televisão da sala onde Dona Conceição (mãe de Orfeu), confecciona uma fantasia de carnaval.

Numa outra cena surge o compositor da velha guarda Nelson Sargento e Diegues como dono de um bar. (Nagib, 2006, p. 136)

Grande Otelo travestido de grego dança com Helena de Tróia, na tela da TV. Trata-se de uma cena em homenagem à primeira estrela negra do cinema brasileiro, embora este nunca tenha tido o papel principal em nenhuma chanchada. (Rodrigues, 2008, p. 149)

O samba da Viradouro, de Niterói, liderada por Joãozinho Trinta foi o tema do Orfeu no carnaval de 1998 e que o diretor aproveitou para filmar algumas cenas do filme. (Nagib, 2006, p. 138)

Na terça-feira de carnaval, Eurídece é morta por Lucinho num tiro acidental, depois o corpo é jogado no lixão da favela. Orfeu fica sabendo do desaparecimento da amada e vai em busca de informações com Lucinho, que confessa o acidente e a morte de Eurídece. O traficante diz “não olhe para trás fique apenas com as lembranças”.

A lenda de Orfeu e Eurídece: o monomito

 

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O poeta Vinícius de Mores escreveu o roteiro da peça Orfeu da Conceição, baseada na tragédia grega Orfeu e Eurídece.

E a frase de Lucinho é a mesma fala do deus Hades quando Orfeu vai buscar Eurídece no mundo dos mortos, segundo a lenda.

O músico e poeta enfeitiçava a todos como os mortais, imortais, plantas e animais, com a sua lira. E o amor exclusivo e eterno dedicado por Orfeu à Eurídece provocava os sentimentos básicos da inveja e do ciúme, principalmente das mulheres que cortejavam o músico.

A ninfa do bosque era cobiçada pelo pastor Aristeu, que fascinado pela a sua beleza tentou conquistá-la. Ela fugiu e na fuga, a ninfa pisou numa cobra que lhe dá uma picada fatal. Ao perder Eurídece, Orfeu emudece a sua lira, demonstrando a identidade entre amor e arte. (Nagib, 2006, 127)

 

Euridece na mitologia

 

A seguir, ele empreende uma viagem ao mundo subterrâneo, para recuperar a amada, no mundo dos mortos. A canção emocionada que entoa convence o barqueiro Caronte, que transportava os cadáveres ao Hades ao preço de uma única moeda depositada na língua do morto. O barqueiro transportava a alma até o outro lado do rio Estige. A Morada dos Mortos ou Mundo Inferior costumava ser vista como um mundo paralelo ao nosso.

 

 

Caronte

 

Na maior parte das culturas é povoada pelas almas dos mortos e delimitada por rios, muralhas ou chamas, impedindo a entrada dos vivos. As almas passam por ali a caminho de uma nova vida ou passam a eternidade entre demônios nesse domínio sombrio. (Wilkinson, 2013, p. 42)

O rei da Morada dos Mortos que tem o mesmo nome que seu reino é Hades, ele é invisível em seu mundo inferior. Ele é irmão de Zeus e é casado com Perséfone.

Orfeu chega ao Hades para resgatar Eurídice, mas antes ele precisa adormecer Cérbero, o cão de guarda de três cabeças, que vigia a entrada do mundo inferior.

Hades (ou Plutão), o deus do submundo fica muito irritado ao ver que um vivo conseguiu penetrar no mundo dos mortos, mas a música de Orfeu o comoveu e a esposa que estava com o marido convence-o a atender ao pedido do músico.

 

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Hades concorda em devolver Eurídece, mas coloca uma condição: a moça pode sair seguindo Orfeu, mas ele só deve olhar para ela novamente quando estiverem à luz do sol.

Orfeu parte pela trilha íngreme que leva para fora do mundo inferior e toca as músicas de alegria e celebração a fim de guiar a sombra de Eurídice de volta à vida.

No caminho, ele fica desconfiado e procura se certificar de que Eurídice o está seguindo, por um momento, ele a vê perto da saída do túnel escuro. Enquanto ele olha, Eurídece se torna de novo um fantasma. As portas do Hades se fecham eternamente para Orfeu e ele a perde para sempre.

 

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De volta ao mundo dos vivos, Orfeu torna-se um recluso e evita as mulheres despertando com a sua atitude o ciúme e o despeito.

As mulheres da Trácia, que estavam celebrando o festival de Dionísio, vagavam pelas florestas. Elas odiavam aquele cantor, que desprezava todas as mulheres desde a morte de sua esposa. E neste instante todas atiraram pedras quando viram Orfeu. Depois elas fugiram para o interior da floresta. (Schwab, 2001, p. 125)

A jornada lendária do músico foi a sua descida à Morada dos Mortos, considerada uma viagem da qual quase nenhum mortal sobrevivera apenas Hércules, mas ele era dotado de força sobre-humana. (Wilkinson, 2013, p. 44)

Orfeu era famoso especialmente pela sua música e que segundo algumas fontes teria aprendido com Apolo, que era seu pai. Ele também era corajoso tendo acompanhado Jasão em sua busca pelo Velocino de Ouro. O seu talento era sublime, quando dedilhava a sua lira na solidão da floresta.

 

a lira

 

Joseph Campbel, um dos maiores pesquisadores das religiões propôs que os mitos heroicos derivavam de um padrão narrativo comum, o “monomito”, ou a jornada do herói, como é mais conhecido.

As jornadas de Buda e de Cristo, por exemplo, seguem este roteiro pontuando elementos como a chamada para uma “missão importante”. A força de Orfeu era a sua música que encantava a todos e ele conseguia ultrapassar o perigo através de sua lira.

O herói mitológico também deve se recusar às tentações em benefício de uma causa maior e finalmente uma conquista para toda a humanidade. Desta forma, na contemporaneidade o herói grego tornou-se um modelo, um padrão atemporal de comportamento.

A pena que os senhores infernais impõem a Orfeu de não olhar Eurídece ao sair do Hades, no campo das penalidades e castigos é exagerado e torna-se, paradoxalmente, inócuo face à sua impraticabilidade. (Bilharinho, 2010, p. 66)

A condição é simbólica de Orfeu não olhar para trás, no momento de resgatar Eurídece no Hades. Ele desobedeceu ao deus dos mortos e o mito voltou à sua vida. O seu destino seria de salvar Eurídece, bem como, a obtenção do controle de si mesmo, da forma do consciente ou inconsciente.

O seu medo era de se dedicar à amada e perder a liberdade que ele tanto conquistou. Portanto, Orfeu não se desligou de seu passado, dos desejos múltiplos, da liberdade com outras mulheres.

Orfeu necessita dominar os seus desejos, a sua insaciabilidade e transformá-la em “intensidade criadora sob sua forma sublime, se libertando de sua ambivalência”. (Diel, 1991, p. 137)

 

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Orfeu sofreu com a sua desconfiança e ele se perguntava: E se Hades o tivesse enganado? E se Eurídece não estivesse realmente atrás dele? Como ele não conseguiu evitar os seus temores, ele perdeu Eurídece pela segunda vez e o inconsolável músico também sofre outra punição de Dionísio que se voltou contra ele, porque um mortal não poderia ser mais adorado do que ele. As suas adoradas bacantes fiéis ao seu deus despedaçaram o corpo de Orfeu e as musas sepultaram os restos mortais aos pés do Monte Olimpo.

Na atualidade o canto de Orfeu e sua vida são ilustrações do conflito que assola a vida humana, que é o combate entre o divino e o demoníaco. (Diel, 1991, p. 137)

O mito também nos lembra sobre a imprevisibilidade da vida, que nem mesmo o seu poder pode evitá-la. O inevitável como a morte sublinha a imprevisibilidade da vida, da qual morrer faz parte.

Orfeu é mito, paixão e poesia, o casal nos conta sobre a sua história de amor tão rara atualmente.

 

16 Orfeu Cacá Diegues 1999 Filme Movie Film Cinema Nacional Brasileiro Brazilian O Teatro Da Vida  Murilo Benício Toni Garrido

 

No filme de Cacá Diegues, Orfeu mata o amigo de infância como uma vingança. E os tirou dos traficantes ecoam pelo ar sinalizando a morte do líder. Depois, surge Orfeu procurando o corpo da amada nos precipícios do morro e encontra a amada dependurada numa árvore, no lixão da favela.

O filme mostra estas cenas intercaladas por planos do extenso amontoado de barracos de uma favela encravada no morro revelando o contraste das classes sociais. A cidade que se vê do morro é uma cidade à qual os habitantes da favela “vão ou descem”, entre o morro e o asfalto.

No filme de Diegues, a grande ilusão do casal terminou junto com o carnaval. Orfeu leva o corpo de Eurídece para a favela, mas ele é agredido pelas mulheres lideradas por Carmem e Mira, que acaba matando Orfeu com uma lança. Na cena final é entoada com a canção de Máicol e pelo apito no tom fúnebre de seu Inácio, pai de Orfeu. Os policiais, os traficantes e os moradores da favela reconciliam-se momentaneamente à volta do cadáver de Orfeu e Eurídece. Enquanto a favela volta à sua rotina com a voz do locutor da rádio pirata “Voz do Morro”, que combina o seu rap com as mensagens do cotidiano da favela e com a notícia de que a escola de samba foi tri-campeã desse carnaval.

 

09 Orfeu Cacá Diegues 1999 Filme Movie Film Cinema Nacional Brasileiro Brazilian O Teatro Da Vida

 

A  violência passou a ser uma das marcas e normas do Rio e a espécie de inocência, da alegria de viver, que atravessaram o filme de 1959 não seriam possíveis, pura e simplesmente, num filme de 1999 de Diegues. (Rodrigues)

Aqui o filme mostra a vida como ela e é narrado pela “Voz do Morro”, que não é outro senão a ambivalência das favelas.

A verticalidade da favela faz com que sejam visíveis e as vistas dos morros permitem uma visão completa e marcam a diferença com a cidade, que o filme de Diegues revela abordando a história do herói músico e o seu amor eterno por Eurídece.

A trilha sonora de Caetano Veloso e a

mistura com o rap e o funk

Manhã de carnaval

Eurídece, que simboliza o seu amor sublime, que é o outro lado de seu eu como na música “Manhã de Carnaval”, de Caetano Veloso.

A trilha sonora da peça de Vinícius foi lançada em vinil no ano de 1956, pela Odeon, com músicas de Antonio Carlos Jobim e letra de Vinícius de Morais criando uma parceria histórica.

As canções compostas para a peça e acrescidas daquelas feitas para o filme de Camus, se tornaram clássicas do repertório mundial. (Nagib, 2006, p. 127)

O cenário do filme foi de Oscar Niemayer que estreava no teatro.

Segundo Fabiana Quintana, em seu artigo “Orfeu: do mito a realidade brasileira”, ela relata sobre trilha sonora no cinema e comenta que: “Na composição da trilha sonora entraram três canções da peça. Um tema só de Vinícius – “Valsa de Eurídice” e duas de Tom e Vinícius: “Eu e meu amor” e “Se todos fossem iguais a você”. Duas que foram compostas especialmente para o filme “Orfeu Negro” de Marcel Camus. “A Felicidade”, de Tom e Vinícius e “Manhã de Carnaval”, de Luiz Bonfá e Antônio Maria”. (acesso em 23/11/2014 -www.google.com.br

No filme de Diegues, Caetano Veloso é o compositor da trilha sonora do filme e do samba-enredo do carnaval:

“Quando Hilário saiu

Lá da Pedra do Sal

Rei de Ouro surgiu

é Carnaval”

O personagem do samba-enredo da escola Unidos da Carioca é Hilário Jovino Ferreira, um dos milhares de baianos afrodescendentes que migraram da Bahia para o Rio de Janeiro, no século XIX.

Segundo Nagib, com base “nas tradições católicas e nagôs da Bahia ele fundou o rancho “Rei de Ouro”, que é o precursor dos blocos de carnaval carioca”. (Nagib, 2006, p. 135)

A “Voz do Morro”, o rap e o funk combinam com toda a trama do filme. O rap se configura como uma evolução do samba brasileiro descritas no samba-enredo de Caetano Veloso.

Segundo Nagib: “Ao longo do filme o uso do rap inclusive no samba da escola de Orfeu é uma novidade agressiva à passividade de um ritmo consagrado”. (Nagib, 2006, p. 135)

A música de Orfeu repercute em nós porque, como ele, sentimos que somos exceções ao dizer “não posso acreditar que isso está acontecendo comigo”. (Greene, 2001, p. 172)

O mito de Orfeu tem sido revisitado por poetas, pintores, escultores e músicos que tentaram representar uma das histórias de amor mais antiga da cultura ocidental e cada um de acordo com o estilo de sua época.

A representação de cenas do mito de Orfeu e de Eurídece também surge na composição de Claudio Monteverdi quando compôs a sua ópera L´Orfeo, em 1607. Ele tentou reinventar o mito de Orfeu e o seu romance com a ninfa Eurídece. O músico é considerado o pai da ópera porque levou a ópera do mito grego e envolveu público num drama lírico. (Riding, 2010, p. 17)

 

As reinvenções de Orfeu na Arte

 

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Na obra Orfeu guiando Eurídice do submundo, 1861 - Jean-Baptiste Camille Corot temos as características do paisagismo realista, embora apresente o tema com um trecho do mito de Orfeu. O cenário traz detalhes de uma natureza imaginária existente no submundo do deus Hades. Para criar essas imagens, Corot utiliza com maestria os contrastes de luz e sombra. Também é possível perceber nas pinceladas elementos que influenciariam, posteriormente, os impressionistas.

As “reinvenções” de Orfeu na arte e no cinema fizeram com que o mito de Orfeu fosse submetido a várias concepções reveladoras sobre o próprio mito, que fala de amor, morte e a inevitabilidade do fim da vida.

Aqui temos o exemplo do artista De Chirico e sua obra Orfeu – o trovador cansado – 1970.

 

Orfeu -trovador cansado - De Chirico - 1970

 

A ideia de Vinícius de Moraes ao compor a peça teatral surgiu da música ao ouvir um batuque ao longe, enquanto lia um livro sobre o mito de Orfeu.

 

Referência bibliográfica:

1- BILHARINHO, Guido. O filme dramático europeu. Uberaba/Brasil: Instituto Triangulino de Cultura, 2010.

2- CAMPBELL, Joseph. Mito e transformação. São Paulo: Ágora, 2008.

3- CATANI et all. SOCINE- Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema. São Paulo: Panorama, 2003.

4- DIEL, Paul. O simbolismo na mitologia grega. São Paulo: Attar, 1991.

5- GREENE, Liz. Uma viagem através dos mitos: o significado dos mitos como um guia para a vida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.

6- MEDEIROS, Fabio Henrique Nunes. Salve o cinema: leitura e crítica da linguagem cinematográfica. Joinville, SC: Univille, 2006.

7- NAGIB, Lúcia. A utopia do cinema brasileiro: matrizes, nostalgia, distopias. São Paulo: Cosac Naify, 2006.

8- RIDING, Alan. Ópera. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2010.

9- RODRIGUES, Antonio. O Rio no cinema. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

10- RUTHVEN, K.K. O Mito. São Paulo: Perspectiva, 2010.

11- SCHWAB, Gustav. As mais belas histórias da antiguidade clássica: os mitos da Grécia e de Roma. São Paulo: Paz e Terra, 2001.

12- WILKINSON, Philip. Mitos & Lendas. São Paulo: Martins Fontes, 2013.

 

Ficha técnica do filme:

Título original: Orfeu

País: Brasil

Ano: 1999

Direção: Carlos Diegues

Elenco:
Toni Garrido (Orfeu)
Patrícia França (Eurídice)
Murilo Benício (Lucinho)
Zezé Motta (Conceição)
Milton Gonçalves (Inácio)
Isabel Fillardis (Mira)
Maria Ceiça (Carmen)
Stepan Nercessian (Pacheco)
Maurício Gonçalves (Pecê)
Lucio Andrei (Piaba)
Mari Sheila (Be Happy)
Eliezer Mota (Stalone)
Sergio Loroza (Coice)
Silvio Guindane (Maicol)
Castrinho (Oswaldo)
Maria Ribeiro (Joana)
Gustavo Gasparini (Mano)
Paula Assunção (Deise)
Alexandre Handerson (Ronie)
Andréa Marques (Sheila)
Nelson Sargento (Nelson Sargento)
Maria Luiza Jobim (a menina que canta "A Felicidade")
Cássio Gabus Mendes (Pedro)
Ivan Albuquerque (He-Man)
Léa Garcia (Mãe de Maicol)
Escola de Samba Unidos do Viradouro

Roteiro Final: Carlos Diégues com a colaboração de Hermano Vianna, Hamilton Vaz Pereira,
Paulo Lins e João Emanuel Carneiro

Fotografia: Affonso Beato
Direção de Arte: Clóvis Bueno
Montagem: Sérgio Mekler
Música: Caetano Veloso
Figurinos: Emília Duncan
Carnavalesco: Joãozinho Trinta
Som direto: Mark van der Willigen
Câmera: Gustavo Hadba
Edição de som: Tom Paul
Efeitos especiais: Gene Warren Jr.
Diretor-assistente: Vicente Amorim

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