A POÉTICA SURREALISTA DE SALVADOR DALÍ: NA ARTE E NA MODA

 

 

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Rosto de Mae West (1934-1935)

 

 

ANDRÉ BRETON E OS FUNDADORES DO SURREALISMO

Em 1924, em Paris, o poeta André Breton escreve o Manifesto do Surrealismo. O movimento se formara gradualmente nos anos da I Guerra Mundial, baseado nas experiências de outras vanguardas como o Expressionismo.

Com sua crítica ao racionalismo e ao materialismo da sociedade ocidental faz surgir o “sobrenaturalismo” como define Breton “fora de toda preocupação estética e moral”. Humor, fantasia excessiva, crueldade e angústia, presenciam as metamorfoses desconcertantes dos indivíduos polimóficos, recorrentes nos fulgurantes textos poéticos de Éluard ou Aragon, nas pièces teatrais de Artaud, nos cine-poemas de Buñuel e Cocteau, nas obras de Max Ernest, René Magritte, Salvador Dalí, Paul Delvaux, Yves Tanguy, Joan Miró, Jean (Hans) Arp, Henry Moore, Man Ray. E se é facilmente partilhável uma data de início da poética surrealista a partir dos funerais do Dada, mais discutível é a individualização de um epílogo: os efeitos da libertação surrealista caem como chuva sobre as gerações do segundo Pós-guerra. (Uzzani, p. 2011, 01)

Para os surrealistas a ênfase é no extremo do visual e o senso de irrealidade nas imagens, bem como, buscar revelar o potencial criativo do inconsciente e justapor as imagens do real com as do imaginário, causando um efeito estranho e desconcertante.

 

 

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Napoleão no deserto (1941) Max Ernest

 

 

Breton dizia que a arte deve ser criada a partir do inconsciente para fluir e o Surrealimso é uma expressão francesa que designa algo que está além do realismo. A inspiração era no inconsciente e na aproximação de figuras estranhas entre si. Eles viviam “os monstros da mente”.

 

 

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Busto de mulher retrospectivo (1933) – Dalí

O SURREALISMO E A PSICANÁLISE

André Breton, admirador das teorias psicanalíticas de Sigmund Freud, salienta que o papel da arte é o de exprimir aquilo que se esconde no inconsciente, através de processos de “automatismo psíquico puro”. O artista deixa vaguear o pensamento, anula os freios inibidores, recolhe ideias, palavras, imagens, agora reunidas em livres e casuais associações.

 

 

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Telefone-Lagosta (1938) Dalí

A Psicanálise proposta por Freud procurava se concentrar na dimensão do inconsciente, na leitura dos significados reprimidos, na subjetividade dos sonhos, considerando que Freud entendia o trabalho artístico como uma atividade de expressão sublimada de desejos proibidos e que são projetados no objeto artístico pelo artista. A projeção consiste em transferir para pessoas e objetos de nossas relações, os nossos conflitos internos e inaceitáveis. (Valente, 2007, p. 118)

 

 

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Sonho causado pelo voo de uma abelha ao redor de uma romã, um segundo antes de despertar (1944) – Dalí

A sublimação é o termo que se refere ao processo de produção de atividades superiores (intelectuais, artísticas, morais, etc), indiferente, em aparência, a uma dinâmica e a uma economia sexuais inconscientes, mas que encontra nesta sua fonte, força e regime de funcionamento. (Valente, 2007, p. 214)

O termo “interpretação” refere-se à operação característica do trabalho psicanalítico de Sigmund Freud e que derivou na publicação da sua obra: “A Interpretação dos Sonhos”, em 1900.

O artista é o idealizador, um ser talentoso o bastante para transformar os impulsos primitivos em formas simbólicas e opter a sublimão por meio do processo criativo na arte. O trabalho artístico facilita a expressão, o reconhecimento e a elaboração dos conteúdos psíquicos do indivíduo de sentimentos reprimidos tanto para os artista quanto para os espectadores que também compartilham por meio da experiência estética os seus conteúdos inconscientes, por meio da projeção.

 

 

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Aparição da face e da bandeja de frutas na praia – 1938 – Dalí

Na Psicanálise não existe a garantia de uma “verdade” de interpretação, sendo que este trabalho é de reflexão e promove o sentido da experiência, por meio do contato com a obra e as sensações que ela nos provoca. O procedimento da interpretação da arte por meio da Pscanálise é recurso aplicável em qualquer fenômeno da arte.

Este “mundo visível” nas obras de Dalí seria semelhante ao conteúdo manifesto, que é o conteúdo do sonho expresso através da sua narrativa, antes que esse conteúdo seja submetido ao trabalho analítico de descoberta de seus significados inconscientes.

 

 

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O sono – 1937 – Dalí

Para a apreciação de uma obra de arte faz-se necessário deixar-se levar pela imagem , sem defesa, sem julgamento moral ou estético, para poder apreender o que a obra comunica no seu silêncio. Paradoxalmente, ela fala em alto e em bom som, àquele que sabe escutá-la, imbuido de uma postura paciente e tolerante.

 

 

O FILME “LITTLE ASHES” E O PODER DA ARTE DE SALVADOR DALÍ

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Robert Pattinson interpreta Salvador Dalí

O filme “Little Ashes” (2008), com direção de Paul Morrison relata a juventude de Salvador Dalí, aos 18 anos, quando ele entra para a faculdade determinado em se tornar um grande artista. A sua timidez e exibicionismo faz com que a elite da universidade volte as suas atenções ao jovem estudante. O filme acompanha a sua relação com Garcia Lorca e Luis Buñuel, que se tornaram amigos e grandes artistas contemporâneos.

 

 

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Salvador Dalí

Nas obras de Salvador Domingo Felipe Jacinto Dalí (1904-1989) pode-se verificar que, pouco a pouco, a insistência de certos temas, assuntos ou argumentos vão se reiterando, se repetindo.

O espectador ao observar a sua obra vai perceber detalhes que vão se delineando num vasto mundo de possibilidades de se ver a arte do artista espanhol, por meio de símbolos ou metáforas.

 

 

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Sofá-Lábios de Mae West (1936-1937) Dalí

As obras deste artista revelam um mundo surreal, que provêm de seu imaginário e de sua criatividade, que resulta numa obra com um sentido inesperado e que surpreende o espectador. A obra de arte e o material psíquico do espectador se encontram e se relacionam no momento da fruição da obra.

 

 

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Obras de Salvador Dalí (imagens google)

Essas são apenas três das 39 joias criadas pelo artista entre 1941 e 1970. A peça mais famosa é o “The Royal Heart”, é feita de ouro está incrustada com 46 rubis, 42 diamantes e quatro esmeraldas e foi criada de tal forma que o centro pulsa como um coração verdadeiro. A coleção de joias completa pode ser vista no Teatro Museu Dalí em Figueres, Catalunha, Espanha. (google)

 

 

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Broche Lábios de rubi – 1949 – Dalí

Segundo professor de história da arte, da universidade de Florenaça e crítico de arte, Roberto Magalhães, respeitar uma obra de arte em seu ser específico é apropriar-se da linguagem que lhe é própria. Ou seja, se queremos ler um romance, temos antes de mais nada, saber ler. Caso contrário, não entenderemos as palavras, as frases, os seus sons, com todos os desdobramentos de sentidos e inesperadas vibrações, das normas. Precisamos ser humildes e nos aproximar dos instrumentos que são próprios do artista. Como um turista na cidade estrangeira, se temos um mínimo de vocabulário em comum com as pessoas do lugar, conseguimos comunicar com elas, podemos intuir um pouco do seu modo de ser, que, imediatamente, nos torna também mais conscientes do nosso próprio modo de ser e achar os caminhos para visitar os tesouros locais. (revista Viver Mente & Cérebro)

Este processo requer criatividade, sensibilidade e principalmente, respeito tanto pela obra, quanto pelo artista, independentemente de sua intenção ao expor a sua criação.

 

 

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Salvador Dalí, Walt Disney, Gala e amiga

DALÍ E A RELAÇÃO COM A MODA E A ARTE “VESTÍVEL”

 

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Paletó de Smoking Afrodisíaco – 1936 – Dalí

Além da parceria com Christian Dior, Salvador Dalí criou vários projetos com Elsa Schiaparelli, estilista contemporânea.

 

 

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Vestido lagosta

O vestido lagosta foi criado em 1937, pela estilista Schiaparelli e foi um dos pioneiros da obra de arte “vestível”.

 

 

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Vestidos surrealistas

Elsa Schiaparelli foi uma das estilistas a se engajar ativamente ao movimento do Surrealismo, colaborando com Salvador Dalí e Jean Cocteau. (Costa, 2009, p. 78)

As roupas criadas pelo artista tinha como o objetivo de chocar a burguesia, com vestidos e acessórios, segundo seu método paranóico-crítico.

Salvador Dalí e outros artistas traduziam os manifestos e postulados através de roupas, jóias, acessórios e estamparia. A moda surrealista, assim como arte, rompia com a razão e regras de vestuários.

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O Surrealismo na moda compartilha com a fantasia, o escapismo, os delírios e os sonhos. Os surrealistas usavam a moda para mostrar o limiar que existe entre a consciência e a inconsciência.

 

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Costume do ano 2045 – 1949-50 – Dalí

A colocação de um objeto ou imagem em local estranho, como na obra acima de Dalí, causa um estranhamento no espectador.

 

 

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A estilista Elza Schiapparelli

Os surrealistas levaram ao extremo o visual e o senso de irrealidade nas imagens. A inspiração nas teorias freudianas formou uma conexão com as figuras estranhas entre si, onde o sonho exprime os desejos mais profundos da mente humana. O sonho e o inconsciente entram na arte.

Com a 2ª Guerra Mundial o movimento declinou mas a sua influência é significativa nos dias de hoje, como nas roupas de Franco Moschino, Jean-Charles de Castelbajac e a Maison Martin Margiela que empregam conceitos de deslocamento e de justaposição no vestuário.

 

 

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Objeto escatológico de funcionamento simbólico - 1930 – Dalí

Os gregos diziam que se maravilhar é o primeiro passo no caminho da sabedoria e que, quando deixamos de nos maravilhar, estamos em perigo de deixar de saber. E Salvador Dalí nos proporciona o deslumbramento quando ele junta formas, linhas, cores e o estranhamento das imagens, misteriosas fantasias, que o artista sabe nos mostrar com prazer.

 

 

 

FICHA TÉCNICA DO FILME

Título: Poucas Cinzas

Ano: 2008

Direção: Paul Morrison

Pais: Espanha

Elenco: Robert Pattinson (Dalí), Mathew McNulty (Luis Buñuel) e Javier Beltrán (Frederico Garcia Lorca)

BIBLIOGRAFIA

1) COSTA Cacilda Teixeira. Roupa de artista: o vestuário na obra de arte. São Paulo: Imprensa Oficial/Edusp, 2009.

2) MACKENZIE, Mairi. ...Ismos para entender a moda. São Paulo: Globo, 2010.

3) VALENTE, Nelson. Mito, sonho e loucura. São Paulo: Intermedial Editora, 2007.

4) Revista Viver Mente & Cérebro.

5) UZZANI, Giovanna. Pocket Visual Encyclopedia: Surrealismo. Florença/Italia: Ed. Scala, 2011.

Imagens/site/www.google.com.br

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