O STAR SYSTEM E A ESTRELA POPULAR: MARILYN MONROE

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O sorriso de Marilyn Monroe

 

Após a 2a Guerra Mundial, os Estados Unidos era a nação mais poderosa e rica do mundo e os negócios da indústria cinematográfica, asseguravam a sua influência em todo o planeta.

O star system americano foi importante porque renovou a arte da maquiagem, do vestuário, do comportamento, da maneira de fotografar as estrelas e também da cirurgia que aperfeiçoa e embeleza e conserva a fábrica dos deuses do cinema.

Max Factor foi o artesão de perucas e também o esteticista contratado pelos estúdios que lucrou com essa indústria nascente lançando a sua própria linha de cosméticos. (Mackenzie, 2010, p. 77)

 

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Marilyn Monroe e James Dean, atores do star system

O star system ingressava nos belos anos de sua história. A atividade cinematográfica era estimulada para dar moral às tropas e às populações da 2ª. Guerra. As estrelas femininas faziam personagens fortes, abordavam os temas da coragem, da guerra, da dedicação, sobre um fundo romântico. (FAUX, 2000, p. 140)

Os filmes de Hollywood e suas atrizes de estúdio davam poder ao cinema e também era assegurado através de seu poder econômico, do seu sistema de produção, de distribuição e de exibição muito bem organizado e totalmente centralizado na imagem dos seus atores.

Desde em então, o star system é o coração da indústria cinematográfica, sendo um sistema de agenciamento dos atores e atrizes onde são realizados contratos milionários de exclusividade, incluindo um código ético e moral em público, que balizava as relações no meio artístico de Hollywood.

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Marlon Brando e Marilyn Monroe

 

A indústria cinematográfica investia na imagem da estrela de acordo com o star system, que ajudava a controlar as atrizes mais populares e que refletia no crescimento dos negócios. Multidões de pessoas eram atraídas às salas de cinema para assistirem nas telas as atrizes que eram lançadas e promovidas em filmes.

Enquanto isso, os esquemas de sedução do consumidor estavam sendo entrelaçados com os poderes da imagem feminina na tela que crescia. Hollywood desenvolveu junto à imagem de Marilyn Monroe, a promoção do desejo, da aparência e do glamour, cuja imagem se perpetuou até os nossos dias.

A fábrica de sonhos e o star system hollywoodiano realizava a atividade cinematográfica baseada em contratos, sendo que o ator não escolhia os papéis que desempenhava. Mas, a heroína vinha de um lugar comum.

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Marilyn a atriz mais popular de Hollywood

A autora Laura Mulvey cita Mary May que resume este fenômeno: “A heroína feminina era encontrada geralmente na sociedade urbana contemporânea e fosse ela uma mulher emancipada ou uma garota encarnada por Clara Bow, Mae Murray, Joan Crawford, Gloria Swanson, Norma ou Constance Talmadge, ela retratava uma jovem inquieta, ansiosa para escapar de um lar ascético.” (Lary May, Screening Out the Past, Oxford University Press, 1980, p. 218)

 

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Marilyn e Michelle

Dentro do star system a beleza-juventude das estrelas femininas era em torno dos 20-25 anos e depois da década de 40, a heroína poderia fazer sucesso mesmo com 40 anos.

 

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Marilyn e a publicidade do sabonete Lux

Marilyn estava dentro dos padrões e a sua maquiagem era muito bem estudada, mais natural do que a das sereias fatais do cinema, porém mais sedutora sendo o resultado de apenas três horas de trabalho; base, pó, sombra, rímel, cílios postiços, delineador, um batom rosa coberto de vaselina para dar à boca um volume voluptuoso, criaram uma imagem sem igual. (FAUX, p. 161)

Segundo Edgar Morin, uma evolução natural progressiva tendia para reunir no interior de cada filme o que estava espalhado em gêneros especializados. A mistura de vários temas (amor, aventuras, cômicos) dentro de um mesmo filme também se esforçava por responder ao maior número possível de exigências específicas e dirige-se a um público variado, segundo as normas do star system. Mas, o problema ocorreu quando os filmes exploravam a imagem feminina nas telas de cinema e com isso confundiu a imagem da mulher, como um componente erótico e como espetáculo de mercadoria, como ocorreu com a atriz.

 

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Marilyn Monroe

Dentro da estrutura narrativa, o espetáculo sexual e a feminilidade tendem se confundir, entre a beleza, a feminilidade e a sexualidade no cinema. Desta forma, a imagem da mulher começa a ser associada a segredos, a algo que permanece obscuro e nasce a femme fatalle. A imagem do cinema adquire um “inconsciente” que tem a sua fonte na ansiedade masculina e no desejo projetado sobre uma feminilidade incerta. (Mulvey, 1996,p. 133)

A América nos anos 50 propõe as questões do corpo feminino muito misturado à erotização do consumo e da mercadoria. A atriz Marilyn Monroe, uma representante do star system, na última entrevista de sua vida disse: “Este é o problema, um símbolo sexual torna-se uma coisa e eu odeio ser uma coisa. Mas se eu for me tornar um símbolo de alguma coisa, eu prefiro que seja de sexo.” (Mulvey, 1996, p. 136)

Segundo Laura Mulvey estas imagens e histórias produzidas no auge de Hollywood são continuamente recicladas na televisão e no vídeo; por isso, a cultura popular através da citação e repetição de padrões narrativos, pode retirar delas um “livro de recordações” reconhecível na iconografia e nos gêneros”. (Mulvey, 1996, p. 124)

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O close-up de Marilyn Monroe

A autora acrescenta também que, a fascinação com a beleza feminina foi comentada por Jean-Luc Godard que cita o diretor americano D. W. Griffith, tocado pela beleza de sua atriz principal e inventou o close-up para captá-la em detalhes. (Jean-Luc Godard, Definition and Ilustration of Classical Cinema, New York, The Viking Press, p. 28, 1968)

A autora não acredita que Griffith inventou o close-up, mas sim a luz difusa e as lentes especialmente adaptadas para a sua estrela favorita, Lilian Gish. O cinema estava desenvolvendo as convenções da montagem em continuidade, que deram ao produto hollywoodiano seu movimento e excitação.

De outro lado, o close-up da estrela teria a força de suspender a história, cortando a imagem da star do fluxo geral da narrativa, enfatizando sua função como espetáculo à parte. Deste modo, uma disjunção aparecia entre a imagem da mulher na tela, intensificada como espetáculo, e o fluxo geral da continuidade narrativa que organizava a ação. (Mulvey, 1996, p. 126)

 

clip_image009 Coleção 1992 Primavera-VerãoCindy Crawford

Marilyn com vestido de saco de batatas e  Cindy Crawford usando o mesmo modelo da atriz

 

Mesmo numa publicidade de sabonete LUX ou usando um vestido costurado com saco de batatas, ela era soberana.

Rosângela D. Canassa

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