Análise fílmica:

 

 

“A invenção de Hugo Cabret” 

e o cinema mágico de George Méliès

Capa 2

Hugo Cabret (Asa Butterfield)

 

O filme conta a história de um órfão de 12 anos, que vivia numa estação de trem em Paris, no início do século XX. Além de morar escondido na estação ele também trabalhava no local consertando os relógios. Nesta estação Hugo encontrou um velhinho que consertava brinquedos e que nada mais era que George Méliès. O cineasta foi pioneiro no estilo do cinema fantástico.

Méliès perdeu tudo com o fim de seu cinema e desiludido ele não desejava mais falar do assunto. A sua esposa guardava todas as recordações dos filmes do marido numa mala, que ficava guardada no armário do quarto do casal.

 

Hugo e Méliès

Papa Georges (Ben Kingsley) e Hugo Cabret

 

O pai de Hugo era um relojoeiro que trabalhava num museu e guardava uma importante relíquia, um androide. Ele faleceu num acidente e o menino perdeu o pai. Ele foi criado por um tio alcoólatra.

Hugo dividia as suas aventuras com Isabella, neta de George Méliès. Ela ajudou-o a descobrir o mistério que escondia aquele androide.

 

varias

O androide

Os dois eram perseguidos a todo momento, pelo inspetor que trabalhava na estação e que considerava Hugo, uma criança que vivia roubando. O seu objetivo era de entregar o menino para uma instituição, que recolhia crianças órfãs da estação.

 

Hugo e o inspetor

Hugo e o Inspetor (Sacha Baron Cohen)

O UNIVERSO AFETIVO E MÁGICO

NO CINEMA DE GEORGE MÉLIÈS

cartaz Melie

                                        Georges Méliès

Marie-Georges-Jean Méliès (1864-1948) nascido em Paris considerava as atividades da família de vender sapatos, uma chatice. E para desgosto familiar ele revolveu entrar para o mundo artístico, quando começou a estudar pintura e numa viagem a Londres ele descobriu a mágica. (Folha de S. Paulo – 15-05-2011 - ilustrada)

Quando Méliès regressou à Paris ele trabalhou como ilusionista e assim ele progrediu como um empresário no mundo do cinema, além de ser ator de seus próprios filmes, junto com a sua esposa que também participava das cenas.

Méliès ajudou também a criar truques de ilusionismo para o Théâtre Robert-Houdin, em Paris.

 

acto_magico_del_vintage_frances_del_mago_del_de_poster-r10ab58a793fc481598c0273064ed183f_aisvb_400

Cartaz do Teatro Robert-Houdin

 

O cineasta assistiu a primeira projeção dos irmãos Lumière, em 1895 e num impulso ele vendeu tudo o que tinha e foi fazer o seu cinema.

Em 1896, ele pode comprar os equipamentos necessários e começou a filmar. O cineasta usava imagens sobrepostas, lâmpadas que pipocavam luzes coloridas, trucagens que enganavam os olhos do público. Méliès comprou um projetor Theatografh e uma lata de negativo para fazer um filme de 01 minuto.

Em 1897 ele constrói um ateliê para se dedicar aos seus experimentos com as imagens e passa a fazer vários filmes. O cineasta começou a fazer do cinema a arte da imaginação e chamava atores para atuar diante de um fundo pintado, em um estúdio e aplicava técnicas básicas de ilusão de ótica.

 

georges-melies

Méliès

Em 1902, ele produz o filme mais conhecido dele que é “Viagem à Lua” que fez sucesso imediato. O filme conta a história de um grupo de exploradores que fazem uma viagem à lua. Eles são atirados em uma cápsula por um canhão gigantesco. Na lua, eles são capturados pelos selvagens chamados de selenitas e precisam fugir para retornar a terra.

O Filme “Viagem à Lua” (1902) é considerado o filme que estabelece que é ficção e não-ficção, num tempo em que o cinema retratava, na maioria das vezes, a vida cotidiana, como nos filmes dos irmãos Lumière, no final do séc. XIX. Meliès conseguiu o entretenimento puro e simples. (Schneider, 2008, p. 20)

 

Viagem à Lua

Filme “Viagem à Lua” – 1902 – Méliès

O filme reflete a personalidade histriônica do diretor que foi ator de teatro e mágico e também o filme é considerado como o primeiro filme de ficção científica, sendo um ícone do cinema mundial. (...) As imagens de “fantasia” de Méliès, obtidas através de trucagens eram consideradas fantasia ou já ficção científica (...) Mas depois de ir à falência em 1913, virou vendedor de brinquedos na estação de Montparnasse, na França e dos seus mais de 500 filmes em celulose, a maioria foi derretida pelo exército francês para fazer botas, na Primeira Guerra Mundial. (Borgo, 2009, p. 77)

O filme “Viagem à Lua” é um misto de nonsense com uma aventura do livro de Julio Verne, cuja obra foi inspirada. Será que Méliès foi o primeiro cineasta a escrever um roteiro baseado numa obra literária?

 

Papa George

Papa Méliès (Bem Kingsley)

 

O longa de Scorsese “A inveção de Hugo Cabret” tem uma importância suprema na medida em que ilumina a cena da vida do ilusionista, produtor, escritor, pintor e diretor que dirigiu mais de 500 filmes, com o uso da criatividade na invenção do cinema mágico. Ele nos ensinou que uma imagem da realidade colocada de forma divertida no cinema, vale mais do que a realidade nua e crua.

 

Martin Escorsese

Martin Scorsese

 

O filme lembra também que, a realidade da vida exterminou a fantasia de George Méliès, que durante quase 20 (vinte) anos, o nome dele estava esquecido. E com a publicação do livro “A invenção de Hugo Cabret”, de Brian Selznick e o filme de Scorsese, o cineasta ressurge de trás da fumaça do esquecimento do público de cinema.

A magia de Méliès (....) não só nos apresenta um ingênuo momento de infância e também como o desabrochar do primeiro e natural, no seio da imagem objetiva, das potencialidades afetivas. (Xavier, 1983, p. 150)

Scorsese apresenta “A invenção de Hugo Cabret” em 3D, como um conto de fábulas que mistura com a técnica, imagens de sonho e aventura. Com o poder da ilusão que o cinema impõe ao espectador, a sétima arte também promove uma revolução no seu imaginário. Já Dizia Deleuze: “O cinema não apresenta apenas imagens, ele as cerca com um mundo”.

Referência bibliográfica:

1) BORGO, Érico. Almanaque do Cinema. Rio de Janeiro: Ediouro, 2009.

2) JORNAL FOLHA DE S.PAULO – 15/5/2011 – Ilustrada.

3) SCHNEIDER, Steven Jay. 1001 filmes para ver antes de morrer. Rio de Janeiro: Sextante, 2008.

4) Xavier, Ismail. A experiência do cinema. Rio de Janeiro: Edições Graal: Embrafilmes, 1983.

Ficha técnica:

Filme: Viagem à Lua

Ano: 1902

País: França

Direção: George Méliès

Duração: 14 min. – mudo – P&B

Roteiro: George Méliès, baseado no livro Viagem à Lua (Júlio Verne)

Elenco: Victor André, Bleuette Bermon, Brunnet, Jeanne d`Alcy, Henri Delannoy, Depierre, Farjaut, Kelm, Georges Méliès.

Filme: A invenção de Hugo Cabret

Ano de lançamento no Brasil: 2012

País: EUA

Direção: Martin Scorsese

Roteiro: John Logan

Elenco: Asa Butterfield (Hugo), Bem Kingsley (Papa George), Chlöe Grace Moretz (Isabella), Emily Mortimer (Lisette), Sacha Baron Cohen (inspector da estação)

Comentários

Postagens mais visitadas