ANÁLISE DO FILME: “ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS” E A MATÉRIA DE QUE SÃO FEITOS OS SONHOS
O filme Alice no País das Maravilhas, produzido nos EUA, em 2010, com direção de Tim Burton, conta a história de Alice, uma menina de 19 anos de idade, que descobre que será pedida em casamento e fica confusa, porque não aprova o pretendente e resolve fugir da festa.
Seguindo um coelho branco que parece no jardim ela cai num buraco e vai parar no País das Maravilhas, um local que ela já visitou muitos anos atrás, mas não se lembra.
Este filme, com captura de performance em 3D foi baseado na obra clássica de Lewis Carroll, de 1865, com o mesmo título. A obra de Carroll é voltada para o público infantil e inaugura um novo gênero de ficção para crianças.
País das Maravilhas, o mundo onírico de Alice
O nome Wonderland usado neste filme refere-se ao fantástico mundo onírico e do inconsciente e é representando pelo jardim florido e colorido.
No inconsciente de Alice, encontram-se figuras estranhas e curiosas, como o Gato Risonho, o Chapeleiro Louco, a Rainha de Copas, entre outras criaturas que vivem neste mundo de fantasias e imaginação.
Estes personagens são semelhantes aos contos de fadas e que moram neste “reino” desconhecido e ao mesmo tempo, familiar.
A experiência subjetiva que aparece na consciência durante o sono e que após o despertar, chamamos de sonho é apenas o resultado final de uma atividade mental inconsciente (elementos psíquicos inacessíveis à consciência). A sua principal característica é de não obedecerem às leis convencionais da lógica e do raciocínio consciente, que governam nossos pensamentos e atividades em vigília.
Durante este processo fisiológico que, por sua natureza ou intensidade, ameaça interferir no próprio sono, ao invés de acordar, a pessoa sonha.
O sonho é fundamental para o equilíbrio psíquico e emocional e o seu significado é a tentativa ou realização (disfarçada) de um desejo inconsciente (suprimido ou recalcado), segundo a teoria freudiana. A sua função é proteger o sono e para não acordar o sonhador os estímulos são canalizados. A descarga da energia psíquica associada ao conteúdo latente evita que este conteúdo acorde a pessoa.
Sigmund Freud, em 1900, publica seu livro A Interpretação dos Sonhos e considera a técnica de interpretação dos sonhos, a entrada real para o inconsciente, sendo a base segura da Psicanálise e os sonhos revelam nossos desejos.
“A estrutura do sonho constitui-se de acontecimentos recentes (resíduos diurnos) que se ligam a lembranças do passado, inclusive fantasias ou lembranças encobridoras temporárias, ou quem sabe, mais permanentes (...) O passado e o presente se ligam no desdobrar do sonho: o passado é despertado por sua ligação com o presente, e o presente ganha vida por sua ligação com o passado. A análise freudiana dos sonhos evita por completo a narrativa cronológica convencional, em favor de uma relação permanentemente dinâmica entre passado, presente e futuro. O passado e futuro estão sempre integrados, ora latentes, ora angustiantes, ora ainda sedutores, à própria idéia de “realização” (futura) do desejo (pré-histórico)”. (Forrester, 2009, p. 79-82)
Freud ao estudar os sonhos ele abandona a postura de médico que se debruça só sobre a patologia. Sua tese de entender a mensagem dos sonhos seria uma forma de acessar a “caixa preta” do inconsciente e que acabou acarretando na formação de sua teoria ao estabelecer uma forma singular de compreensão da psique humana, por meio do sonho e o estudo do sentido oculto do inconsciente.
A teoria freudiana em relação ao aparelho psíquico demonstra que ocorre uma subversão do tempo cronológico, tempo que se regula os ritmos biológicos, apontando um outro tempo, que é o tempo dos sonhos, tempo que não faz distinção entre passado, presente e futuro. Este fenômeno vai revelar que o sonho abordado pela Psicanálise subverte a noção do real (tempo em vigília), com o tempo do mundo onírico, sendo que, todos nós temos a mesma estrutura cerebral, mas o mundo onírico é individual, pertence ao sonhador, como o seu DNA.
A formatação cerebral proposta por Freud é que o psíquico vai se impor ao corpo e esta teoria é comprovada por meio de seus estudos com suas pacientes histéricas e seus sintomas, na medida em que a transgressão da psique sobre o corpo biológico é inevitável. A partir destes estudos sobre os sintomas histéricos percebe-se que o corpo se submete aos efeitos da mente.
No País das Maravilhas, Alice vive as suas aventuras e precisa decifrar vários enigmas de seu sonho e vai precisar da chave para abrir a pequena porta que simboliza a passagem do consciente para o inconsciente, que vai conduzi-la a construir a sua própria história, enquanto dorme.
Segundo Freud o inconsciente é atemporal, em qualquer idade nós perdemos e nos encontramos nele.
Alice demonstra a sua dificuldade em perceber quem ela é e provavelmente, em decorrência de sua idade, pois tinha saído do período de adolescência. Ela cresce e diminui de tamanho várias vezes, bebendo poções ou comendo bolo. E a falta de controle de seu corpo a deixa em crise.
Minha hipótese é de que Alice sofre problemas de auto-estima e que vai acarretar nos conflitos com a sua imagem. As várias transformações que ocorrem em seu corpo simbolizam a sua insegurança e a falta de aceitação de si própria. A saída que encontra é beber poções que possam resolver a sua “deformação corporal”.
No mundo onírico, os animais convivem em condições de igualdade com os homens, onde tudo é possível e os acontecimentos são imprevisíveis, como os sonhos de Alice.
Quando ela viu o Coelho Branco e o Rato ficou muito nervosa, as duas criaturas chagarem bem perto dela e arregalaram os olhos. Mas ela tomou coragem e foi em frente:
“A folhagem se agitava a seus pés quando o Coelho Branco passava correndo... o Rato, todo assustado, se debatia na lagoa ali perto... ela ouvia o ruído das xícaras de chá que a Lebre Aloprada e seus amigos tomavam juntos na sua refeição interminável, e a voz estridente da Rainha, condenando seus infelizes convidados à morte... uma vez mais o bebê-porco espirrava no colo da Duquesa, com os pratos e as travessas se arrebentando ao redor....” (Carroll, 2009, p. 147)
O Gato Risonho, um dos primeiros animais que Alice encontra simboliza a independência do inconsciente de nosso controle.
Segundo Signell, o gato não obedece as nossas ordens e é indomável. À noite ele nos ataca de surpresa. O gato enxerga no escuro e seus olhos brilham com uma estranha luminosidade. Seus olhos são diferentes dos mansos olhos aveludados do cão. (Signell, 1998, p. 260)
Alice pergunta ao Gato Risonho:
_ Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para ir embora daqui?
_ Depende bastante de para onde quer ir, respondeu o Gato.
_ Não me importa muito para onde, disse Alice.
_ Então não importa que caminho tome, disse o Gato. (Carroll, 2002, p. 63)
Nos contos de fadas, os animais auxiliares, se tratados com respeito e bondade ajudam a heroína. Também nos sonhos os animais podem ser de grande ajuda, se pararmos para conhecê-los. (Signell, 1998, p. 200)
A Lagarta aconselha Alice a lutar com uma espada que pertence à Rainha Branca e que foi roubada, ela deve matar o dragão.
A Lagarta é um animal que se arrasta e simboliza a própria jornada de Alice que deve seguir em frente, com humildade para encontrar a sua natureza profunda e voltar a emergir como uma borboleta. O sonho indica que ela deva começar como a Lagarta, que se move para a frente e tendo os seus sonhos como guia.
A borboleta é símbolo universal do desenvolvimento e da mudança na natureza, símbolo do aspecto espiritual da vida que remonta aos tempos pré-históricos. (Signell, 1998, p. 205)
A Lagarta vai dar à ela vários conselhos, mas o Chapeleiro Louco, seu melhor amigo é quem vai lhe dizer a palavra mágica, ele diz que ela perdeu sua “grandiosidade”. Então, Alice percebe que sua vida é guiada por outras pessoas e não por ela mesma. E partir deste momento, ela assume as rédeas de seu destino.
O simbolismo do personagem do Chapeleiro Louco no sonho de Alice representa o mundo das idéias e do pensamento, como metáfora o seu chapéu.
O chapéu, por cobrir a cabeça, tem em geral o significado do que ocupa a cabeça (o pensamento). (Cirlot, 2005, p. 156)
O pensamento nada mais é que um substituto do desejo alucinatório e se o sonho é uma realização de desejo, é este que põe o aparelho psíquico para funcionar e sonhar. O que um dia dominou o estado de vigília, quando a psique ainda era incompetente, parece agora ter sido banido para a noite, tal como as armas primitivas abandonadas pelo homem adulto, os arcos e flechas, são redescobertas no quarto de brinquedos. O sonho é um ressurgimento da vida psíquica infantil já suplantada. (Forrester, 2009, p. 33)
Pensamentos e idéias permanecem ativos em nossa mente durante o sono, acordando a pessoa como os estímulos sensoriais.
Freud nos conta como o sonho e o desejo funcionam, a partir da metáfora do dinheiro:
“O pensamento diurno pode perfeitamente desempenhar o papel de empresário do sonho; mas o empresário, a pessoa que dizem ter a ideia e a iniciativa para executá-la, não pode fazer nada sem o capital; precisa de um capitalista para arcar com o gasto, e o capitalista que fornece o desembolso psíquico para o sonho que é sempre, sem exceção, um desejo oriundo do inconsciente.” (Forrester, 2009, p. 36)
Freud descreve os ciclos dos sonhos e relaciona-os com a questão do desejo, com o intuito de se estabelecer uma ponte entre passado, presente e futuro e acaba situando o ser humano, a sua essência como um ser desejante. Desejo este que se expressa utilizando a máquina neuronal, porém sem reduzir a ela.
Portanto, somente o desejo é capaz de ter força suficiente para impulsionar a psique e, desse modo, produzir sonhos.
Um desejo que cause conflito é afastado para as sombras do inconsciente, só que, este desejo vai procurar a sua expressão de qualquer maneira, se não for possível expressá-lo de forma consciente. O desejo vai aparecer no sonho e que foge à censura.
A Rainha de Copas sofre de uma deformação e sua cabeça é enorme e desproporcional ao seu corpo pequeno. No seu reino, somente as pessoas com deformações no corpo podem entrar. A Rainha, só tinha uma maneira de se livrar dos problemas fossem eles grandes ou não, sempre dizia: _ Cortem a cabeça dele!
Carroll vinculou o comportamento das cartas de baralho com os personagens. Os soldados são paus, os cortesãos e membros da corte são do naipe de ouro.
Ele imaginou a Rainha de Copas como: “uma espécie de encarnação da paixão ingovernável, uma fúria cega e desnorteada. Suas constantes ordens de decapitação soam chocantes para os críticos atuais de literatura infantil que acham que a ficção para crianças deveria ser desprovida de qualquer violência em especial de violências com sugestões freudianas. (...) Pelo que sei, não fizeram estudos empíricos sobre o modo como crianças reagem a tais cenas e o dano que é causado às suas psiques. Minha impressão é que a criança normal acha tudo muito divertido e não é prejudicada em absoluto (...) (Carroll, 2002, p. 80)
A forma como os sonhos são interpretados é sempre em função do contexto de vida do sonhador e também como este sujeito vai associar as imagens de seu sonho com seu momento de vida. Não basta decifrar o sonho, porque também será necessário decodificar as emoções latentes contidas nestas imagens.
No caso de Alice, como ela sofre com o seu corpo porque sente que ele está “deformado”, a Rainha de Copas representa este seu estado psíquico.
A maioria dos desejos dos adultos, que são contrários aos seus padrões e são recalcados “no passado” e ele pode surgir novamente, no sono. Então aqui, Alice se “disfarça” de Rainha para poder enfrentar a sua “deformação”.
Outras vezes o disfarce se revela tão intensamente que quando aparece é apavorante. Estes disfarces são características dos sonhos manifestos da última infância e da vida adulta, segundo a teoria freudiana.
O grau de distorção do sonho vai depender da natureza do desejo e a severidade da censura. Quando a censura fracassa há o sonho de angústia, que é o pesadelo. A censura está ligada ao super-ego, não é boa nem ruim.
Quando se trata de desejos não vergonhosos, não recalcados, o disfarce é menor, não é exagerado. A estória se manifesta e o conteúdo latente se encontra muito mais próximo da realidade.
A minha hipótese é que o desejo de Alice seria de ter a beleza da Rainha Branca que vive à espera de um cavaleiro que possa salvar o seu reino da tirania da sua irmã, a Rainha de Copas, que roubou a sua espada e a sua coroa.
O simbolismo da coroa, no sentido mais amplo e profundo, é a idéia da superação, cujo fator decisivo é a vitória do princípio superior (espírito) sobre os instintos. (Cirlot, 2005, p. 182)
A espada, o seu sentido primário, é um símbolo simultâneo da ferida e do poder de ferir e por isso um signo de liberdade e de força. (Cirlot, 2005, p. 236)
Alice vai precisar desta espada que simboliza o discernimento, a coragem e a determinação, qualidades essenciais para combater o seu monstro interno.
Alice necessita de força para superar seus instintos primitivos que são representados pelos monstros. Os monstros no sonho dela representam também os seus aspectos psíquicos ou conflitos não elaborados. O reencontro com estas criaturas, simbolicamente é o reencontro consigo mesma e seus monstros internos que precisam enfrentados para crescer.
Todos nós temos nossos próprios monstros e de alguns temos medo e preferimos negar a sua existência. Estas criaturas que habitam dentro de nós representam nossas fantasias no nosso psiquismo e por meio dos sonhos, temos a chance de confrontá-los, o que pode ser doloroso, mas o resultado é benéfico.
A interpretação dos sonhos vai depender das associações livres do sonhador e do conteúdo manifesto (consciente). No sonho, os processos inconscientes (conteúdos latentes) são revelados de forma clara e acessível ao estudo e são valiosos para o psicanalista. Ele revela os conteúdos mentais que foram reprimidos ou excluídos da consciência e sua descarga pelas atividades defensivas do ego.
A essência da elaboração do sonho é uma tradução para a linguagem do processo primário, das partes do conteúdo latente ainda não expressas nesta linguagem, seguida da condensação dos elementos do conteúdo latente e uma fantasia de satisfação dos desejos.
Os conteúdos latentes do sonho constituem-se de restos diurnos em conexão com o desejo inconsciente. Nem sempre acontece o visual e o tátil. Ocorrem também as impressões sensoriais como a fome, a sede, a vontade de urinar, etc.
As impressões sensoriais noturnas quando participam da iniciação de um sonho, formam uma parte do conteúdo latente. A maioria dos estímulos sensoriais não perturba o sono e nem mesmo ao ponto de participar da formação de um sonho. Por exemplo, pode ocorrer uma tempestade e a pessoa não acorda.
Mas, uma impressão sensorial perturbadora pode acordar imediatamente a pessoa, quando dormimos com o ouvido “ligado”. Exemplo, a mãe que acorda com o choro do seu bebê.
O processo de sonhar é, em essência, um processo de satisfação de um impulso do id com uma fantasia, que é o conteúdo manifesto do sonho. O conteúdo manifesto é a satisfação de um desejo e decorre da natureza do conteúdo latente, que é o iniciador do sonho e a fonte de energia psíquica.
O sonho manifesto tem a característica de ser visual, é o material recordado. A censura exige o disfarce, para não ser acordado. Sonhando, trabalho o sonho, processo inconsciente que transformo ordenado pela censura.
O conteúdo manifesto do sonho recordado deve ser diferenciado dos pensamentos latentes do sonho, que estão no inconsciente.
A preocupação com a representação plástica decorre que o conteúdo manifesto consiste principalmente em imagens. Cria uma fantasia que representa a gratificação do impulso do reprimido que também é parte do conteúdo latente. Tudo isto é feito em consideração à representação visual do sonho. É possível que uma única imagem represente, simultaneamente, vários elementos latentes do sonho.
O enredo dos sonhos humanos é construído integralmente por imagens e neles, não se escuta a voz de um narrador. Enquanto dura um sonho, o cérebro é incapaz de distingui-lo da realidade.
Quando o sonho é irreconhecível é porque as defesas do ego tendem a se opor ao aparecimento do conteúdo latente do sonho manifesto, consciente e também durante o estado de vigília. Esta oposição das defesas do conteúdo latente é o principal responsável pelo sonho manifesto ser deformado.
Segundo Freud, também pode ocorrer do sonho ser todo vago, isto porque as defesas do ego foram suficientes para impedir a sua tradução.
Outra questão importante apontada por ele é que as informações visuais estão sempre presente em nossos sonhos, ainda que haja outros componentes sensoriais. O caráter eminentemente visual de nossos sonhos é pelo fato de que a visão é nosso principal canal sensorial e nossa memória visual a mais importante.
Os pesadelos são chamados em Psicanálise de sonhos ansiosos, que seria uma falha na atividade defensiva do ego e o conteúdo latente vai direto para o conteúdo manifesto. O ego reage com ansiedade, como as fantasias edipianas.
Os sonhos de punição também são sonhos ansiosos porque o ego antecipa a culpa, a condensação do superego, sua parte do conteúdo latente, que deriva do reprimido que encontra uma expressão demasiadamente direta do conteúdo manifesto.
Às vezes, sabemos que estamos sonhando porque não perdemos todo o critério de realidade, mesmo dormindo, o pré-consciente (elementos psíquicos prontamente acessíveis à consciência) está ativo. A memória é um exemplo.
No filme Alice ao enfrentar o monstro ela diz: “É um sonho nada pode me machucar.”
O sonho de uma criança não sofre censura ou deformação. Conforme ela vai crescendo, o ego vai se formando e vem a censura.
O devaneio é o sonhar acordado, quando inconsciente está mais solto, há uma maior expressão, sendo uma via para realização de um desejo.
Segundo James Hillman: “Talvez o ponto essencial dos sonhos seja que, noite após noite, ano após ano, eles preparam o ego para a velhice, para a morte e o destino, emergindo-o sempre mais profundamente na memória.” ( Hillman, 1984, p. 167)
As figuras humanas retratadas pelo pintor Marc Chagall (1887-1985) flutuam nas cenas e que parecem ser extraídas de sonhos. Os artistas tentam representar o mundo onírico de diversas formas e cores, às vezes com um tom dramático, como os desenhos de Chagall.
No diário de Carroll, de 09 de fevereiro de 1856 ele se indaga: “quando estamos sonhando e, como tantas vezes acontece, temos uma vaga consciência do fato e tentamos despertar, não dizemos e fazemos coisas que na vigília seriam insanas? Não poderíamos, portanto, definir por vezes a insanidade como a incapacidade de distinguir o que é vigília e o que é sonho? Frequentemente sonhamos sem a menor suspeita da irrealidade: o sonho tem seu próprio mundo e com freqüência é tão real quanto o outro.” (Carroll, 2002, p. 64)
A meu ver, os nossos sonhos, com sua linguagem simbólica, nos contam coisas sobre nós mesmos e tenta estabelecer um diálogo por meio das imagens e com o intuito de nos guiar nos caminhos do nosso mundo real, como o Coelho Branco segue apressado o seu caminho. Cabe a nós a atividade de decifrar cada sonho, que é o outro lado do nosso espelho.
- Mas não quero parar no meio de gente maluca – observou Alice.
- Ah, não adianta nada você querer ou não – disse o Gato – Nós somos todos loucos aqui. Eu sou louco. Você é louca.
- E como você sabe que eu sou louca? – perguntou Alice.
- Bem, deve ser – disse o Gato – ou então você não teria vindo parar aqui.
(Carroll, 2009, p. 154)
Quem foi Lewis Carroll?
O escritor inglês Charles Lutwidge Dodgson, com o pseudônimo de Lewis Carroll, nasceu na pequena cidade de Daresbury, condado de Cheshire, na Inglaterra, em 1832. Ele era o filho mais velho de uma família abastada e divertia-se com seus sete irmãos com jogos e passatempos criados por ele mesmo.
Carroll formou-se na Universidade de Oxford e era professor de matemática dessa mesma universidade. Tornou-se amigo de um dos decanos de Oxford, o Reverendo Henry Liddell e assim como fazia com seus irmãos, ele entretinha as três filhas do Reverendo contando histórias inventadas na hora.
Como ele era muito tímido e gago, Carroll quando se aproximava das crianças sentia-se confortável, mas gostava só das garotinhas. Durante um passeio de barco com as três irmãs ele improvisou uma história fantástica em que Alice Liddell, sua preferida entre elas, caia num buraco e depois encontrava um coelho branco.
A publicação do livro “As aventuras de Alice debaixo da terra” foi à pedido de Alice. Mas, se tratava de uma edição especial de um único exemplar manuscrito e ilustrado, pelo próprio autor, que presenteou a menina no Natal.
Só em 1865, o autor resolveu publicá-lo ampliado e com o título de “Alice no País das Maravilhas”. Dois anos depois, Carroll escreve o livro “Através do espelho e o que Alice encontrou lá”.
Nas duas histórias Alice vive as aventuras em seus sonhos, conforme nos conta Carroll que foi um dos primeiros autores a dar forma escrita às peculiaridades do mundo onírico.
Carroll morreu em Guildford, em 1898, muito feliz com a montagem da peça das aventuras de “Alice no País das Maravilhas”.
Nicolau Sevcenko comenta sobre o livro de Alice e explica que o conservadorismo cultural e a moral puritana, que marcaram o longo reinado da Rainha Vitória, não toleravam desvios de comportamento orientado pelas rotinas metódicas. Tudo o que fosse escrito para a garotada deveria se guiar por esses preceitos, exprimindo uma clara função educativa e uma nítida intenção moralizante. (...) Atrás de cada personagem está um tipo de instituição vitoriana que Carroll satiriza com sua obra e como um antídoto contra a aborrecida vida adulta. (Carroll, 2009, p. 153)
Desde 1903, quando o cinema ainda era mudo o filme Alice no País das Maravilhas vem sendo filmado. São dezenas de adaptações, de várias nacionalidades e algumas mais fiéis ao texto, das quais elencamos as principais:
1931 – primeiro filme com som, dirigido por Bud Pollard.
1933 – primeira superprodução de Hollywood, Alice in Wonderland, dirigida por Norman Mc Leod.
1951 – Walt Disney produz o desenho animado Alice in Wonderland, dirigido por Geronimi Cetal, que se tornaria um clássico.
1972 – primeiro musical para cinema: Alice´s Adventures in Wonderland, dirigido por William Sterling.
2010 – outra superprodução: Alice in Wonderland, dirigida por Tim Burton.
Referência bibliográfica
1) CARROLLl, Lewis. Alice no País das Maravilhas. São Paulo: Cosac Naify, 2009.
2) CARROLL, Lewis. Alice: edição comentada. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2002.
3) CIRLOT, Juan-Eduardo. Dicionário de símbolos. São Paulo: Centauro, 2005.
4) FORRESTER, John. A interpretação dos sonhos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.
5) HILLMAN, James. O mito da análise: três ensaios de psicologia arquetípica. Rio de Jnaieor: Paz e Terra, 1984.
6) SIGNELL, Karen A. A sabedoria dos sonhos: para desvendar o inconsciente feminino. São Paulo: Ágora, 1998.
CD do filme: Alice no País das Maravilhas – dirigido por Tim Burton – EUA – 2010.
Imagens:
www.google.com.br
Livros:
CARROLLl, Lewis. Alice no País das Maravilhas. São Paulo: Cosac Naify, 2009.
CARROLL, Lewis. Alice: edição comentada. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2002.
Comentários
muita gratidão por nos brindar com palavras e imagens riquíssimas.
Namastê!
Abraços,
Rosângela D. Canassa
Abraços,
Rosângela D. Canassa