Análise do filme “À Prova de Morte”: uma carona mortal
O diretor Quentin Tarantino produziu o filme À Prova de Morte (2007) e coloca na estrada carros turbinados, muito sangue e mulheres belas e perigosas.
O filme é uma homenagem do diretor para as obras de terror e suspense dos anos 70 e exibidos em drive-in norte-americanos.
De início, o filme “À Prova de Morte” foi produzido como uma continuação do filme “Planeta Terror”, de Robert Rodriguez, sendo dois filmes juntos, mas com o título de “Grindhouse”. Depois o projeto foi desmembrado. (Guia da Folha – julho de 2010)
A estética do filme combina cores e designer dos 70, com assuntos da atualidade, como o celular e as revistas de moda, de 2011.
Tarantino reproduz a estética, os temas e a cor desbotada dos filmes B, dos anos 70.
A história de um maníaco à solta já bem comum no cinema quando surge um psicopata, que persegue mulheres bonitas e jovens, na estrada.
As garotas com roupas e cores dos anos 70
O filme conta a história de três amigas que saem para se divertir e chegam num bar mexicano no Texas, onde bebem e dançam ao som de um jukebox (caixa de música). Elas vestem shorts, camiseta, chinelos, tudo muito à vontade.
A aspirante de atriz Julia (Tracir Thomas)
As garotas são Shanna, Charlene e Julia que chamam a atenção quando passam, não só pelo modelito que vestem, mas também pelo comportamento apelativo de querer mostrar quem são e do que são capazes. E quem serve os drinks no bar é Tarantino, no papel de Warren.
Quentin Tarantino (Warren)
Uma das garotas percebe que estão sendo seguidas pelo dublê Mike. Ele dirige um carro à prova de morte e usa-o como arma fatal ao perseguir as moças, apenas por uma brincadeira.
O ator Kurt Russell é um dublê que guia o carro pelas estradas, parando de bar em bar, neste road movie de Tarantino.
Ao encontrar as garotas no bar o dublê psicopata vai atrás delas, como um cão farejando carne.
Mike observa as garotas no bar (Kurt Russell)
O senso comum já sabe que quem tem força não precisa demonstrá-lo de forma tão exagerada para desafiar a própria morte, cujo modelo ele repete ao ser dublê. O desejo de possuir carros com motores barulhentos já remete ao guerreiro ancestral que para incutir medo no inimigo produzia um ruído ensurdecedor.
O carro indestrutível
O personagem Mike busca aventuras nas estradas, mas percebe tardiamente que é uma tentativa fadada ao fracasso, o que busca na verdade e inconscientemente, é o suicídio, um anseio pela morte para encontrar a paz que teme ter perdido. A velocidade causa-lhe a elevação dos níveis de adrenalina no cérebro e conduz a uma euforia artificial que resulta em satisfação. Na realidade em que este personagem vive e para escapar do embotamento afetivo, ele precisa das experiências violentas, como no papel de dublê, para conseguir algum grau de satisfação.
Mike (Kurt Russell)
Simbolicamente, este personagem seria a inversão do cavaleiro, onde o elemento inferior, os instintos primitivos, o inconsciente dominam o seu logos, seu sentimento moral e o intelecto, como o centauro da mitologia grega.
O Centauro animal fabuloso da mitologia
A psicologia do trânsito
Para o psicólogo Francesco Albanese, presidente do Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento em Psicologia na Itália, que há anos estuda psicologia do trânsito comenta que, o carro, por estar associado subjetivamente a atributos considerados viris, como velocidade e potência (ideia amplamente reforçada pela propaganda), o carro se presta melhor a ser alvo de um processo de identificação masculina. E onde há identificação, há projeção da própria personalidade. Não por acaso, o homem tende a revestir o carro de significados simbólicos, a ponto de humanizá-los como se fosse uma garota a ser cuidada ou uma mulher a ser amada. (Mente &Cérebro, 2007, p. 64)
Os carros se chocam violentamente no filme
As mensagens publicitárias que aparecem na tv quando o produto de venda é um carro, em linhas gerais a mensagem é de que, quem está ao volante deseja ser forte e livre, sem que nada possa detê-lo, cuja fantasia é de cunho infantil.
O sonho infantil do homem de poder comandar impulsionado pela ilusão de superar qualquer obstáculo é o perfil do personagem interpretado por Kurt Russell.
Neste filme, o dublê também desempenha um papel grotesco de querer intimidar as garotas, ao confrontar o seu carro chocando-se com o delas. Sabemos que o verdadeiro papel do macho (homem ou animal) é proteger o ser ao seu lado.
Para Sigmund Freud, podemos pensar que a escolha de chegar até o limite máximo da velocidade do automóvel é, para algumas pessoas, uma forma de compensação utilizada para nivelar traços pessoais deficitários e ostentar força e potência, afirma o psicólogo Albanese. (Mente & Cérebro, 2007, p. 65)
Mas, como o filme é de Tarantino, este diretor não tem a intenção de revelar o certo ou o errado no ser humano, mas apenas o seu lado destrutivo e mortífero, como o dublê Mike e outros tantos personagens tarantianos.
Referência bibliográfica:
1) Guia da Folha Ilustrada – julho/2010.
2) Revista Mente & Cérebro – 2007.
Ficha técnica do filme:
Título: À Prova de Morte
Diretor: Quentin Tarantino
Ano: 2007
País: EUA
Elenco: Kurt Russell, Tracie Thomas, Marcy Harriell, Monica Stagggs, Zoe Bell, Rose McGowan, Eli Roth, Rosario Dawson, Mary Elizabeth Winstead, Vanessa Ferlito e Quentin Tarantino.
Rosângela D. Canassa
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