Metáfora e cinema: Casa de areia - a cada dia a aflição nas areias do tempo



O filme Casa de Areia (2005) conta a saga de Áurea, em 1910, quando chega com a caravana do marido e a mãe, num local inóspito, no meio do nada e rodeado de muita areia, no interior do Maranhão.
José Vasco de Sá, um português que comprou o areal, pretende morar ali com a sua mulher e sua sogra, Dona Maria. Áurea se decepciona com aquele local e avisa o marido que está grávida e que não pretende criar seu filho naquele lugar. Vasco recusa voltar e marca o local onde ficarão acampados numa cabana de palha das folhas secas dos coqueiros.
Eles são surpreendidos com um grupo de nativos que roubam suas armas e seus animais. O estrangeiro e a família encontram-se desolados, famintos e sem proteção, onde a areia anda e leva tudo. Áurea fica viúva e foi ganhando confiança ao aprender com um nativo, os hábitos e os  costumes do lugar, o que propiciou a sua adaptação.
O filme  trata da relação familiar entre mãe e filha, que se sucedem com seus destinos entrelaçados durante três gerações. A atriz Fernanda Montenegro reveza os papéis com Fernanda Torres.
A imensidão do céu e o areal se confrontam com o pequeno mundo em que estas mulheres se situam, inseridas numa atmosfera sufocante e sem perspectivas de saída do local, onde ninguém entra e ninguém sai.
O som cujo tempo é ordenado pelo ritmo também participa deste cenário ao desempenhar o papel simbólico da comunicação das personagens com a natureza, bem como, o silencio de Dona Maria, que contém no fundo invisível de seu ser as suas angústias. O som participa como sua expressão individual como os pássaros que sobrevoam a cabeça da idosa na praia, demonstrando com seus ruídos, a metáfora de seu pedido de socorro.  
A metáfora do filme também pode ser encontrada na areia que se move e tudo leva como o tempo. A imagem da passagem do tempo no filme evoca o relógio de areia, que simboliza  as transformações que ocorrem na vida de Áurea ao longo do filme e indica que a vida não está fixada. Ela é como a areia, ela é fluída e muda de lugar com o vento e o tempo. O percurso de Áurea  entre as suas emoções e a solidão no areal perpassa por uma esperança de que o tempo poderá trazer mudanças inesperadas.
O filme Casa de areia foi produzido no Brasil, em 2005, com roteiro e direção de Andrucha Waddington apresentando os principais atores: Fernanda Montenegro (Dona Maria), Fernanda Torres (Áurea), Ruy Guerra (Vasco), Seu Jorge (Massú), Luiz Melodia (Massú idoso) e Jorge Mautner (cientista). O filme ganhou o premio Alfred Sloan para longa-metragem no Festival Sundance, em 2006 e ganhou outros prêmios no Brasil.



26/10/2016 – Rosângela Canassa

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