Cinema no Sofá - Os Incríveis 2

Os Incríveis 2 (2018)

Lançamento da versão Blu-Ray e DVD em 06 de novembro




Os Incríveis 2 dá continuidade a trama de Os Incríveis (2004), começando exatamente onde o primeiro filme terminou. Essa decisão de situar a estória no ponto de transição entre os dois capítulos não foi benéfica ao resultado final, criando fragilidades que tornam Os Incríveis 2 inferior ao original em diversos aspectos, como veremos a seguir.
Os Incríveis são uma família de super-heróis tentando levar uma vida normal em um mundo em que o super-heroísmo tornou-se ilegal. Na continuação Os Incríveis 2 a matriarca da família, Helen Parr / Elastigirl (voz de Holly Hunter), sai em uma missão para realizar atos heroicos, patrocinada pela empresa Devtech, a fim de tentar reverter o ato legal que tornara os super-heróis fora da lei. Enquanto isso, o patriarca Bob Parr / Mr. Incredible (voz de Craig T. Nelson) fica na casa da família cuidando dos afazeres domésticos e dos seus super-filhos Violet (voz de Sarah Vowell), Dashiell (voz de Huckleberry Milner) e Jack-Jack (voz de Eli Fucile).
Há problemas com a estória, que se tornam ainda mais intensos para quem se recorda bem do primeiro filme ou para aqueles que gostam de assistir filmes seriados em sequência. O principal deles é que não há evolução na relação entre os personagens pais e filhos, com os pais repetindo o discurso de normalidade – ridículo em uma família em que todos têm super-poderes e depois de tudo o que viveram no original – e tentando renegar sua condição de heróis. Outro ponto negativo é o desgastado recurso de criar cenas cômicas e conflitos no fato do pai – o homem – ter de ficar em casa e não saber como fazer as coisas funcionarem, desde não conseguir controlar os filhos à realização das tarefas domésticas. Podemos citar ainda como fragilidades a estrutura da estória, que é muito semelhante ao primeiro filme, porém invertendo os papeis entre Bob e Helen, e a obviedade de que algo está errado com a missão de Helen, entregando desde muito cedo vários aspectos do final do filme e menosprezando a inteligência dos personagens.
Seguindo a tradição da Pixar, tecnicamente o filme é impecável e chama a atenção como as cenas de ação são bem feitas e criativas, sempre utilizando de forma inteligente os poderes de cada personagem. Acreditamos nos atos heroicos mesmo tendo consciência da fantasia inerente. Além disso, Os Incríveis 2 não cede a apelos comerciais fáceis, então não há mascotes bonitinhos para vender brinquedos e nem canções para seduzir a criançada, que pode até se divertir com o filme mas sem encontrar humor infantilizado e criaturas que gritam ao cair de penhascos – nada que lembre coisas como o abominável A Era do Gelo (2002).

Fé versus razão (spoilers a frente!)

Há um detalhe na trama que passa despercebido, mas que enriquece Os Incríveis 2: a empresa Devtech, que contratou a Elastigirl para resgatar a imagem dos heróis, é de propriedade dos irmãos Winston (voz de Bob Odenkirk) e Evelyn Deavor (voz de Catherine Keener) e as suas motivações traduzem visões de mundo antagônicas. Winston acredita nos heróis, na força superior que desce dos céus para salvar as pessoas e investe dinheiro e esforço pessoal para difundir a sua fé. 

A cientista Evelyn e o "pastor" Winston


Já Evelyn é racional, uma cientista que acredita que os heróis são prejudiciais à humanidade e tenta de todo modo – inclusive trapaceando e tornando-se a vilã da estória – provar o seu ponto.
Adoramos Os Incríveis e torcemos pela família Parr, mas no fundo comemoramos quando a razão cede espaço para a fé cega – qualquer semelhança com o momento político no Brasil e no mundo talvez não seja mera coincidência. A vida real mostra que não há nada a celebrar.


Nota: 4/5




Fabio Consiglio

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