O que é o Cinema Novo de Glauber Rocha e sua importância no Brasil de hoje
A intenção será de buscar nos filmes de Glauber
Rocha (1939-1981) como os três primeiros longas metragens do diretor: Deus e o
Diabo na Terra do Sol (1963), Terra em Transe (1967) e o Dragão da Maldade
contra o Santo Guerreiro (1969), o cineasta assumiu um compromisso com a
verdade nacional e se antes o cinema brasileiro era uma denúncia social,
naquele momento os filmes deveriam expressar os desafios do tempo como o tema
do subdesenvolvimento econômico e o sistema conservador, que se instalava na
esfera política como a ditadura no país.
Segundo Glauber: “(...) onde houver um cineasta, de
qualquer idade ou de qualquer procedência, pronto a pôr seu cinema e sua
profissão a serviço das causas importantes de seu tempo, aí haverá um germe do
Cinema novo” (Rocha, 1965, p. 32).
O Cinema Novo que tinha como preocupação a prática
do cinema político em sintonia com os problemas de desigualdade social do
pós-guerra e o cineasta se destacou com o seu cinema-verdade encarnando a força
produtora de uma nova era num clima de intensa mobilização e adesão dos
artistas e intelectuais. O cineasta baiano efetivamente encarnou a força do
Cinema Novo, a partir da prática cinematográfica como uma instância de
reflexão, de crítica para revolucionar a estética para o cinema brasileiro com
o chamamento do público jovem.
O cineasta bem como outros diretores brasileiros
estavam atentos ao que acontecia no Brasil, tanto no sertão como na cidade e o
destino deveria ser tomado nas nossas próprias mãos de cada um. Por meio das imagens em movimento a intenção
era a conscientização de uma revolução estética e social através do Cinema
Novo: “(...) sendo mais a reativação de capital simbólico, que pode ter o seu
papel no jogo político em se decide a viabilização do seu futuro” (Xavier,
2001, p. 14).
O cinema brasileiro começava a questionar enquanto forma e conteúdo nos de 1960, cuja intenção dos diretores era de que os filmes tivessem um conceito de arte, como a literatura, a pintura pouco conhecida pelo grande público com a influência do Neorrealismo italiano, o cinema se impôs como arte e entretenimento.
Segundo Lipovetsky, o cinema questionava o seu
poder ilusionista e passava para uma nova modernidade: “(...) a da
reflexividade e da desconstrução, a que vê surgir um cinema de autor, que reivindica
o estatuto de obra de arte em oposição aos produtos descartáveis do cinema
comercial. É então que ele engendra a sua própria religião: a cinefilia”
(Lipovetsky, 2009, p. 48).
DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL
O filme Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), o
cinema de Glauber Rocha foi transformado em símbolo do Cinema Novo e lançou um
importante ator como o baiano Othon Bastos, que interpretou Corisco.
O filme de 1964 indicado à Palma de Ouro do
Festival de Cannes. Glauber além de revelar novos valores estéticos para o
cinema, também contribuiu para a compreensão da cultura do nosso Brasil, com os
seus filmes de protesto, bem como, sob a influência do Neorrealismo italiano.
A revolução estética proposta pelo Cinema Novo era
de que o espectador deveria pensar sobre o que via na tela para a construção de
uma nova sensibilidade e para entender o Brasil e o homem brasileiro. Segundo
Ismail Xavier, em Em Deus e o Diabo, prevaleceu o impulso de mobilização para a
revolta e a tonalidade do filme era de esperança, pois estávamos no período
anterior ao golpe militar de 1964, no momento de luta pelas reformas de base,
com a questão agrária no centro, esta mesma que ainda hoje permanece no centro
das tensões sociais brasileiras (Xavier, p. 20).
Segundo o autor, depois do golpe militar, o cinema
encontrou outro motivo para tornar ainda mais urgente sua discussão sobre a
mentalidade do oprimido no Brasil e era preciso entender a relutância do povo
em assumir a tarefa de uma revolução das ideias no sentido não apenas de um
desejo, mas de uma necessidade social.
Os filmes deste período retratavam a “vida real”
mostrando a pobreza e os problemas sociais, dentro de uma perspectiva crítica e
contestadora como o filme Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964). O épico de Glauber
Rocha foi transformado em símbolo do Cinema Novo. FILME COMPLETO NO GLOBOPLAY E
YouTube.
TERRA EM TRANSE
O filme de Glauber Rocha Terra em Transe foi premiado nos festivais de Cannes e
foi realizado durante o período da ditadura e chegou a ser proibido por seu
caráter subversivo.
A ênfase dada a este período colocou em pauta temas
incômodos com a conjuntura cultural e política e que provocou um efeito
catártico na cultura por abordar as transformações no nosso país, o que lhe
causou problemas com a censura.
Os conflitos da dimensão política no Brasil, as
lutas de classe numa dimensão alegórica do caráter nacional, conforme o artigo Revisão
crítica do cinema brasileiro, Glauber Rocha escreveu: “(...) é que
os filmes brasileiros não devem denunciar o povo às classes dirigentes, mas sim
denunciar o povo ao próprio povo”.
A forma alegórica aparece aí tanto em seu sentido
clássico de uma arte que se apresenta por meio de linguagens cifradas ou de
simbolismos disfarçados, que visam expressar um conteúdo sem dizê-lo
explicitamente quanto em sua reelaboração moderna, que busca dar conta de
manifestações artísticas pautadas na fragmentação, na descontinuidade, na
quebra da unidade orgânica da obra de arte convencional (como forma de contestar
a própria ideia da História como progresso linear).
A alegoria desponta, assim, como ferramenta
privilegiada do artista moderno disposto a desmascarar a crise vivida pela
sociedade, porém encoberta pelo otimismo burguês do progresso e, mais do que isso,
internalizar essa crise na própria forma das obras.
O ponto de partida do filme foi de discorrer sobre
diversos temas, desde o legado do Tropicalismo na produção artística brasileira
até as formas de representação da violência no cinema e na televisão.
O filme condensa nos
personagens as forças sociais em conflito e desta vez no Brasil da primeira metade
da década de 1960 e exibe aspectos grotescos da realidade brasileira e a
distância entre política institucional e a população.
O mar glauberiano
apresenta novos significados, cuja imagem marítima de abertura oferece uma
espécie de continuação ao filme de 1964. Um mar prateado, cosmogônico, que se
aproxima das matas verdejantes do país fictício Eldorado. Aqui não há
miseráveis famintos lutando para sobreviver, mas o espectador vai encontrar com
outros tipos como os políticos desprovidos de propostas políticas e que vivem
na opulência com carros e moradias luxuosas, no país dos privilégios.
O DRAGÃO DA MALDADE
CONTRA O SANTO GUERREIRO
O filme narra a história
de um fazendeiro que é ameaçado por cangaceiros no sertão cearense, que querem
dinheiro em troca de proteção. Ele não aceita a proposta e é atacado. Depois
promete uma terrível vingança. A imagem é a linguagem própria do cinema, mas a
forma de narrar enfatiza a própria imagem que contém informações sobre as
situações vividas pelos personagens no filme.
As imagens selecionadas
pela montagem irão dar forma ao discurso narrativo com determinado significado
que pode ser interpretado como simbólico.
Na cinematografia de
Glauber Rocha, apesar de ser um cinema-verdade, ele reproduz a realidade, a
partir da criação e a complementação dessa realidade, que justifica os
resultados artísticos da obra. Seus filmes possuem artifícios para seduzir o
espectador com o intuito de que ele acompanhe a história até o fim. Portanto, o diretor cria uma realidade
paralela ao filme “verdade”. Como qualquer outro cinema, independentemente de
sua técnica ele precisa contar uma boa história que atinja o espectador e que
possibilite entender o significado da narrativa para a compreensão do tempo
vivido pelos personagens, bem como, entender a sua mensagem.
Paralelamente ao que o
filme conta, pode-se estabelecer uma conexão com a experimentação estética, que
foi reinventava nos anos de 1960 por meio do Movimento do Tropicalismo. Em 1963, o cineasta trabalhava em seus filmes
os temas da fome, da religião e da violência para legitimar uma resposta ao
povo oprimido por questões políticas e sociais no país, numa forma de rebeldia.
SCORSECE E GLAUBER ROCHA
https://www.youtube.com/watch?v=-2w233bAwgY
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