Em Cartaz - Vingadores: Guerra Infinita

Vingadores: Guerra Infinita (2018)

Avengers: Infinity War





O saldo de Vingadores: Guerra Infinita é bastante positivo: se por um lado temos os irritantes vícios frequentemente encontrados nos filmes de heróis, por outro temos Thanos (Josh Brolin), protagonista e vilão que seduz pela sua profundidade e seu carisma de líder religioso, o que resulta em um filme extremamente divertido e que pode até mesmo provocar reflexões interessantes.
Thanos quer acabar com metade da vida do universo e para obter o poder necessário para essa missão precisa juntar seis pedras cósmicas extraordinariamente poderosas, as gemas (ou joias) do infinito: poder, tempo, mente, espaço, realidade e alma. Claro que algumas dessas joias estão na Terra ou sob posse de algum dos heróis, o que leva Thanos ao confronto direto com os Vingadores, que tentarão a todo custo – e com a ajuda de outros personagens do universo Marvel como os Guardiões da Galáxia – impedir o chamado titã louco de atingir o seu objetivo.
O filme é longo, mas graças a truques de roteiro que mantém o ritmo da estória todo o tempo – por exemplo algumas cenas de ação que não levam a lugar algum mas distraem a plateia – nunca se torna enfadonho. O humor excessivo incomoda em alguns momentos, tirando o peso e aliviando (de forma negativa) a tensão de algumas cenas. Em um filme com heróis fantásticos o humor é sempre bem vindo, talvez até indispensável (sabemos como é difícil engolir a sisudez dos filmes da Warner/DC e essa seriedade excessiva pode até ser um dos motivos dos seguidos fracassos dos filmes da casa de Superman), mas em Vingadores as piadas passam do ponto, se alongando demais e perdendo o timing cômico.
A certeza de que alguns dos personagens não morrerão – só para citar dois, Pantera Negra e Homem-Aranha já têm novos filmes programados – também ajuda a enfraquecer a carga dramática, assim como a falta de regras sobre os poderes e limites de cada herói, que conforme a necessidade do roteiro pode morrer (ou não) com uma simples queda e os uniformes que podem fazer qualquer coisa, utilizando a muleta científica da nanotecnologia para justificar a materialização de objetos e formas.
Como já citado, Thanos é sem dúvida o grande destaque, pois por detrás da sua insanidade e sana assassina está um objetivo nobre: preservar a vida no universo. Segundo o vilão, não há no universo recursos suficientes para manter toda a vida existente, portanto para que a vida não se extinga é necessário cortá-la pela metade. A sua missão tem contornos religiosos que se tornam bem definidos quando os soldados de Thanos, prontos para executarem centenas de vítimas, dizem para os pobres seres prestes a morrer se sentirem orgulhosos, pois eles irão de encontro ao criador ajudando a manter a vida no universo. A ideia de que os recursos são insuficientes para uma população que não para de crescer não foi criada por Thanos mas por Thomas Malthus, considerado o pai da demografia e conhecido pela sua teoria de controle populacional, o malthusianismo. Essa teoria, formulada no século XIX, alegava que a população crescia em progressão geométrica enquanto que, a produção de alimentos crescia em progressão aritmética, o que resultaria rapidamente em escassez e fome. Tal como Thanos, Malthus carregava uma forte carga religiosa, sendo um clérigo anglicano e pregando a castidade e moral restritiva.


Thanos e seu guru, Malthus


O malthusianismo tornou-se obsoleto com as novas técnicas agrícolas e queda do aumento populacional, mas a ideia de que os recursos são finitos é verdadeira e um dos pilares de todo o discurso ecológico. Thanos pode até ser considerado extremo por seus métodos e limitado por sua visão, tal como Malthus no século XIX, mas não pode ser considerado louco: seu discurso tem embasamento (ainda que ultrapassado) e a riqueza de sua personalidade faz com que Vingadores: Guerra Infinita se destaque no oceano de filmes contemporâneos de heróis e fantasia.


Nota: 4/5



Fabio Consiglio

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