RITA LEE E O MOVIMENTO DO TROPICALISMO NACIONAL
Rosângela Canassa
A palavra ‘Tropicália’ têm como origem uma música de Caetano
Veloso e o seu grupo musical e quando lançaram o disco coletivo com o este nome
foi inspirado numa instalação do artista plástico Hélio Oiticica, exposta no
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro em 1967. As artes plásticas, a música,
o cinema tudo apresentava uma versão moderna dessa estética em relação ao mundo
moderno, nessa época.
Não só na música de Caetano, Gil, Torquato Neto, Tom Zé e Os
mutantes (Rita Lee), a criação de jogos linguísticos e brincadeiras com as
palavras era a partir das influências do Concretismo e da Arte Conceitual
(instalações e performances). Será que funcionava como uma arte
metafórica para enganar a censura como fizeram muitos artistas?
O teatro anárquico de José Celso Martinez comandava o
espetáculo O rei da vela. O momento cultural no Brasil era de ruptura
com o conservadorismo e o movimento do Tropicalismo ou Tropicália, que ocorreu
a partir de 1968 uniu o popular, o pop e experimentalismo estético.
A influência pop era a incorporação de uma cultura não
necessariamente popular, mas era a Pop Art de Andy Warhol nos Estados Unidos,
ao mesmo tempo, as propostas eram de digerir a cultura exportada pelos EUA e
Europa. A cultura erudita deveria ser ‘regurgitada’ e o movimento uniu a
tradição da cultura brasileira, as inovações estéticas radicais com o objetivo
de repercutir na sociedade e atingir o regime militar.
As artes flertaram com o Kitsch, com as ambiguidades,
abandonando a pureza na arte nacional em virtude de uma invasão dos produtos da
mídia internacional. E de modo especial, instaura uma nova forma de relação com
tais influxos externos e produz o choque com suas colagens, que trabalham a
contaminação mútua do nacional e do estrangeiro, do alto e do baixo, do país
moderno em pleno avanço econômico e urbanização e do país arcaico, este que até
setores da esquerda cultivavam, no plano simbólico, com reserva da
autenticidade nacional ameaçada (Xavier, 2001, p. 30).
Segundo o autor, o Tropicalismo trouxe de volta o Modernismo
de Oswald de Andrade propondo uma dinâmica cultural com incorporações e
misturas de textos, tradições, linguagens, cinema, ampliando o repertório
artístico nacional e que fomentou na estética do cinema de autor no Brasil como
Glauber Rocha e o seu enfoque no experimentalismo como o filme Câncer
(1968/72).
A atmosfera tropicalista de colagem e a fragmentação no
cinema atingiu o filme de Rogério Sganzerla, O Bandido da Luz Vermelha
(1968), onde se faz presente a atmosfera tropicalista e o domínio da paródia. Ao
bom humor da ironia de 1968, o Cinema Marginal opõe a sua dose amarga de
sarcasmo e, no final da década, a “estética da fome” do Cinema Novo e encontra
seu desdobramento radical.
A estética tropicalista inspirou outras narrativas, que rompiam com o intelectualismo do cinema novo e tentavam alcançar o público brasileiro. Também surgiu um outro movimento no cinema preocupado com a contestação dos costumes e da linguagem cinematográfica e processo político-social do País, que eram as obras cinematográficas que tratavam dos temas do cotidiano do nordeste brasileiro como O Pagador de Promessas, escrito e dirigido por Anselmo Duarte. Os filmes deste período retratavam a “vida real” mostrando a pobreza e os problemas sociais, dentro de uma perspectiva crítica e contestadora.
O cinema brasileiro assume um papel profanador no espaço da
cultura e que toma a agressão como um princípio formal da arte em tempos
sombrios e resultando num rompimento de contato com a sua com a plateia
incomodada com tal experimentação. O desencantado na chamada “estética do lixo”
na qual o cinema na mão e uma ideia na cabeça, a descontinuidade se aliam a uma textura mais áspera
do preto-e-branco, que expulsa a higiene industrial da imagem e gera desconforto.
O Tropicalismo no Brasil instaurou o choque entre a cultura nacional e a estrangeira, propondo uma estética cujo fruto era da colagem tropicalista, que apresentou um inventário das descontinuidades da história dos vencidos, que seria a crise do sujeito no mundo contemporâneo e a morte dos sujeitos históricos como do proletariado no contexto da cultura de massa e a globalização. Caetano e Rita, bem como, a arte tropicalista falavam (ou cantavam) por si só, portanto, funcionaram como um instrumento social e revolucionário no Brasil tropical.
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