Em Cartaz - Dumbo

Dumbo

Dumbo (2019)




A forma de fazer cinema de Tim Burton não está envelhecendo bem. O seu último filme realmente bom foi Sweeney Todd, o Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet de 2007; desde então as produções lideradas pelo diretor não passam de medianas. É o caso de Dumbo, onde Burton repete fórmulas e soluções, a ponto de facilmente identificarmos a obra como um filme de Tim Burton, mas não de forma positiva – até mesmo a trilha sonora, do parceiro habitual de Burton, Danny Elfman, soa genérica e muito parecida com seus trabalhos anteriores.
O arco básico de Dumbo é o mesmo de O Patinho Feio, uma história bonita, mas muito simples: os curta-metragens originais do Patinho (de 1931 e de 1939) tinham a duração de 7 e 9 minutos respectivamente, mais do que suficientes para contar a história de modo satisfatório. Até mesmo o Dumbo original, de 1941, tinha a duração de apenas 64 minutos. Juntando-se no mesmo pacote um diretor que parece estar no piloto automático com um roteiro básico bastante simples temos um resultado que parece repetir ideias até mesmo dentro do filme. Por exemplo, às vezes em que Dumbo apresenta-se no picadeiro do circo: na primeira vez, ocorre um incidente improvável, mas OK, a história precisa andar para frente; na segunda apresentação do elefantinho um novo incidente, na terceira vez de novo. Quando Dumbo entra no palco pela quarta e última vez no filme todos já sabem que alguma coisa vai acontecer e não só o fator surpresa é totalmente anulado como também a inteligência da audiência é desprezada.
Até mesmo o visual do filme conspira contra ele em alguns momentos. Se por um lado a atenção de Burton para o que vemos na tela possibilitou a melhor cena do filme, quando vemos bolhas de sabão em formato de elefantes dançando na tela, lembrando muito o clássico Fantasia de 1940, por outro temos o design de Dumbo. O filhote voador de elefante foi criado de forma a criar empatia instantânea, com olhos grandes e cativantes e uma expressão indefesa. Mas só os espectadores percebem isso, já que para todos os personagens Dumbo é “feio e desajeitado”, mais um maniqueísmo duro de engolir.
Podemos ver Dumbo como um filme de terror sob o ponto de vista dos animais, que são aprisionados, maltratados e explorados nos circos. Esse viés e a sua mensagem final acabam salvando o filme da mediocridade total, ao relembrar a necessidade dos circos não contarem com animais nas suas apresentações, algo que já acontece em grande parte do mundo, circos sem animais. Mas chegar ao terceiro ato e a sua conclusão, onde essa boa intenção é explicitada, reserva um desafio a quem assiste Dumbo: manter-se acordado para ver o final do filme.


Nota: 2/5



Fabio Consiglio

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