Um filme por dia 2017 - 01/11 - Susana, Mulher Diabólica (1951)



Título original: Susana
Susana foge de um reformatório e se esconde em uma fazenda onde, escondendo a sua verdadeira origem, é abrigada por Don Guadalupe (Fernando Soler) e sua família. Sua figura e atitude sensuais seduzem os homens da propriedade, incluindo o patriarca Guadalupe, o seu filho Alberto (Luis López Somoza) e o capataz Jesús (Víctor Manuel Mendoza).
Embora à primeira vista Susana (Rosita Quintana) pareça ser uma vilã devassa que chegou para corromper uma família de pessoas boas, a obra pode ser vista por um outro ângulo, onde Susana é uma vítima de sua beleza e do machismo. Em nenhum momento é explicado qual foi o delito cometido pela moça para que essa tenha sido detida - talvez o seu corpo voluptuoso e provocante tenha sido a causa - e desde o momento em que ela chegou à fazenda todos os homens passam a assediá-la de uma forma ou de outra. No tradicional hábito das sociedades patriarcais fundadas na tradição judaico-cristã, onde a castidade da mulher é vista como uma virtude, a culpa dos ataques é sempre da mulher e não do violentador, afinal ele como macho não tem o dever de controlar os seus desejos, cabendo à fêmea a obrigação do recato. Claro que ao assistir o filme vemos que Susana não é santa e tenta manipular as pessoas para conseguir melhorar de vida, mas quem seria mais merecedor de uma punição: Susana que usou o seu poder de sedução mas sem atacar ou obrigar ninguém a fazer o que não quisesse ou por exemplo Jesús, que assediou e estuprou a moça e mesmo assim foi perdoado por todos por ter sido "enfeitiçado" por Susana?
Não consigo ver a conclusão de Susana, Mulher Diabólica sem enxergar um grande cinismo por parte do diretor Luis Buñuel: tudo retorna a normalidade e a família volta a sua harmonia com todos sendo perdoados, menos obviamente a bruxa Susana, cuja beleza só pode ser de origem demoníaca. Após o pesadelo chamado Susana ser exorcizado, a casa cristã elimina qualquer pecado carnal de seus domínios; para os homens de bem que querem alívio através do sexo sempre existirão os bordéis, afinal a sujeira deve ser deixada do lado de fora do lar. 
Nota: 4/5


Fabio Consiglio



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