Um filme por dia 2017 - 03/11 - Ele está de Volta (2015)



Título original: Er ist wieder da
Baseado no romance homônimo de Timur Vermes, Ele está de Volta brinca com a ideia de Hitler ressurgir em pleno século XXI. Utilizando uma estrutura por vezes semelhante a de Borat, misturando ficção com reações espontâneas de pessoas reais, Ele está de Volta provoca risos, muitas vezes sorrisos amarelos e nervosos, ao expor a verdadeira natureza do ser humano e como Hitler poderia muito bem repetir a história se estivesse vivo nos dias de hoje.
Mesmo sem ser hilariante, Ele está de Volta é engraçado e ao mesmo tempo perturbador ao mostrar como as pessoas, através de pequenas iscas, facilmente libertam-se do politicamente correto e revelam as suas verdadeiras convicções. Muitos dos abordados nas ruas não só concordam com as ideias racistas e preconceituosas como chegam a jurar fidelidade a Hitler (Oliver Masucci), como um homem que pede para a câmera ser desligada a fim de confessar que morreria pelo Führer caso ele fosse realmente o personagem histórico.
A política é mostrada como desacreditada pela população, com várias imagens de noticiários sendo exibidas e narradas por Hitler ironizando a atuação dos representantes do povo e colocando em dúvida o quanto a democracia melhorou a vida das pessoas. Claramente entendemos que a democracia está em crise no mundo inteiro, abrindo espaço para discursos populistas e potencialmente perigosos como os feitos por Hitler. A televisão e o jornalismo também não são poupados: a TV é só circo e modismos - Hitler passa pelos canais e só encontra programas de culinária - e os jornalistas não se preocupam em discutir ou expandir conceitos mas escrever exatamente o que a plateia quer para não perder leitores.
Ao lado de grandes ideias, como Hitler cair em desgraça por agredir um cachorro - enquanto pregava a morte de seres humanos ninguém se importava - a grande falha de Ele está de Volta é o excesso de didatismo, insistindo em explicar o que foi mostrado e que deveria ser interpretado livremente pelo espectador, como por exemplo Hitler explicando que faz sucesso porque no fundo todos são como ele. Mas pensando bem, para pessoas que elegem Trump e apoiam Bolsonaro, todo o didatismo do mundo ainda não será o suficiente.
Nota: 4/5


Fabio Consiglio



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