Um filme por dia 2017 - 21/11 - O Assalto ao Trem Pagador (1962)



Título original: O Assalto ao Trem Pagador
Filmes Heist são um tipo específico de filmes de crime que mostram a elaboração, preparação e execução de um plano criminoso, seja um assalto, um resgate de presos ou um golpe em um cassino. O ótimo filme brasileiro O Assalto ao Trem Pagador não se concentra no golpe em si, mas nas consequências dessa ação nas vidas dos envolvidos, um pós-heist.
Um grupo de bandidos assalta o trem pagador liderados por Tião Medonho (Eliezer Gomes) e Grilo (Reginaldo Faria); os bandidos combinam de serem discretos em relação ao dinheiro para não levantar suspeitas e os conflitos começam no exato instante em que o assalto é concluído.
A obra começa com o assalto e com estética e temática de um filme norte-americano - a polícia dentro do universo diegético diz ter a convicção que o crime foi cometido por estrangeiros pelo modus operandi. Mas isso logo se dissipa e por detrás da trama criminosa enxergamos a verdadeira intenção do filme, de ser uma crítica social discutindo preconceito, pobreza, a inevitabilidade do crime para algumas camadas da população e a ausência de poder e assistência do estado nas favelas já nessa época, 1962, permitindo o aparecimento de justiceiros e lideranças com vocação para o crime.
As interpretações são magistrais com destaque óbvio para os dois líderes, não por coincidência um branco e outro negro, o que gera diversos conflitos e uma cena antológica, onde Grilo destila o seu preconceito afirmando que Tião, por ser negro e favelado, não merece uma vida digna que o dinheiro pode comprar - imagino quantas "pessoas de bem" não vibraram concordando intimamente com o discurso de ódio de Grilo.
Ao final conclui-se que o crime não compensa, mas isso é só uma parte da verdade. Frente as condições de vida daquelas pessoas, talvez o crime seja a única solução ou pelo menos a perseguição de um sonho de uma vida rica e melhor, sonho esse que inevitavelmente acaba mal para os sonhadores. Cachaça, personagem de Grande Otelo, faz o seguinte discurso (bêbado é claro) quando vê um pequeno caixão de criança descendo o morro: "quando morre uma criança na favela todo mundo devia de cantar, é menos um pra se criar nessa miséria". Esse sentimento talvez resuma a opção pelo crime, em um filme que infelizmente continua atual.
Nota: 5/5


Fabio Consiglio



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