OSCAR 2019 - Bohemian Rhapsody



Os mais novos talvez não conheçam a expressão jornalismo chapa-branca: jornalista ou jornal que pertence ou é patrocinado pelo governo, obviamente exaltando de forma não crítica o governante mecenas. Chapa branca porque na época, as placas dos veículos oficiais eram brancas e da população comum, amarelas. No caso de cinebiografias, é muito comum termos obras "chapa-branca" e esse é o caso e o pior defeito de Bohemian Rhapsody (2018), cujo roteiro foi feito sob medida para agradar aos membros remanescentes da banda Queen.
Bohemian Rhapsody conta a história de Freddie Mercury (Rami Malek) no grupo de rock Queen, desde a sua entrada como vocalista na então amadora banda até o seu precoce falecimento por conta da AIDS. Por conta da curiosidade que todos temos pelos bastidores do mundo do entretenimento e pela acertada decisão de focar a energia do filme na musicalidade do Queen - a biografia é quase um musical - Bohemian Rhapsody é divertido, e o seu sucesso de público é prova disso.
Mas suas qualidades não anulam o maniqueísmo do seu roteiro; nele todos os integrantes do Queen são mostrados como santos, com uma bondade e passividade que acaba os transformando em seres  unidimensionais e irreais. Freddie Mercury é exaltado, mas talvez por ser o único que não pôde aprovar o roteiro por motivos óbvios ele não é mostrado apenas de forma positiva, sendo ilustrado como a força criativa da banda, mas também como uma força destrutiva, que abandona os amigos e flerta com o egoísmo e a ingratidão. Essa dualidade não o diminui, muito pelo contrário, transforma Mercury no único personagem humano de Bohemian Rhapsody.
Um bom exemplo de quanto o plot de Bohemian Rhapsody é manipulativo é o personagem Ray Foster (Mike Myers, cujas interpretações constrangedoras tornaram-se um padrão para a sua carreira nos últimos anos), empresário que não existiu na vida real e parece ter sido injetado apenas para exaltar a luta de bem contra o mal, do herói contra o bandido, do outsider contra o sistema. A cena dele sozinho lamentando o sucesso do Queen é embaraçosa.
Depois de ver  Bohemian Rhapsody entende-se porque o ator Sacha Baron Cohen desligou-se do projeto (ele interpretaria Freddie Mercury) por diferenças criativas com os integrantes vivos do Queen: a julgar pelos trabalhos do criador de Borat, ele imporia um tom crítico - e muito mais realista - à toda história, algo impensável para um produto que está muito mais próximo do informe publicitário do que do jornalismo investigativo.


Nota: 3/5

OSCAR 2019

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