OSCAR 2019 - Green Book: O Guia



Green Book: O Guia (2018) é, em alguns aspectos, um Conduzindo Miss Daisy (1989) às avessas: no filme de 1989 o homem negro Hoke Colburn (Morgan Freeman) era o motorista da mulher branca Senhora Daisy (Jessica Tandy) e em Green Book o homem branco Tony Lip (Viggo Mortensen) conduz o carro do seu chefe negro Dr. Don Shirley (Mahershala Ali). Outra característica comum são os protagonistas extremamente carismáticos, mas as semelhanças param por aí: enquanto Conduzindo Miss Daisy trata do preconceito racial de forma primária, quase pueril (alguns até o acusam de ser racista) Green Book mostra de forma mais realista a feia face da discriminação.
Tony Lip aceita o emprego de ser motorista e segurança do pianista Don Shirley em uma turnê pelo sul dos Estados Unidos na década de 1960. Tony começa então a aprender - e nós espectadores brancos juntos com ele - o quão difícil e perigoso é ser negro na América, principalmente nos estados do sul. O guia do título - o livro verde - soa simpático pelo nome, mas sua utilidade é vergonhosa para qualquer nação que necessite dele: nele estão os lugares seguros e que aceitam negros nos estados sulistas. Qualquer negro circulando por essa região sem ater-se ao indicado no guia corre risco de morte, o que é bem ilustrado pelo filme.
A obra acaba por perdoar pequenos atos racistas do protagonista Tony. Essa decisão pode incomodar, mas é possível entender os motivos que levaram a ela: Tony evolui e amadurece ao longo da história e seu sentimento racista vai se dissolvendo; à medida que ele vai conhecendo e tornando-se amigo de Don, o preconceito automaticamente torna-se insustentável e finalmente a mais importante, todos somos racistas em algum nível - sim, é difícil assumir isso - e precisamos constantemente lutar contra isso.
Mesmo sendo um filme agradável e com ótimas interpretações, Green Book peca pela infantilidade ilustrada no relacionamento entre Tony e Don e pelo excessivo didatismo - por exemplo, os policiais mais ao sul eram racistas absolutos enquanto os mais ao norte, com os nossos heróis já chegando em Nova Iorque, são delicados e justos; essa falta de tons cinzas não reflete de forma adequada a realidade. Green Book funciona bem se o enxergarmos como um guia para que os brancos sintam, mesmo que de forma extremamente superficial já que é impossível sentir o racismo na pele sem essa ser negra, o que é ser um afro americano nos Estados Unidos e, por que não, no Brasil. Porque pior do que ser um racista canalha irracional assumido como nos EUA é ser um racista canalha irracional hipócrita e camuflado, o personagem mais comum aqui na Pátria Amada Brasil.


Nota: 3/5

OSCAR 2019

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