Um filme por dia 2017 - 10/11 - O Deserto dos Tártaros (1976)
Título original: Il deserto dei tartari
O tenente Giovanni Drogo (Jacques Perrin) é designado para trabalhar em uma fortaleza à beira de um deserto, cujo objetivo é impedir o ataque dos tártaros. Com belíssima fotografia e locações, como a cidadela / fortaleza Arg-é Bam localizada no Irã, O Deserto dos Tártaros não se limita ao requinte do formato, apresentando camadas que permitem diversos signos e interpretações.
Os aguardados invasores tártaros nunca chegam, todos os militares que servem na fortaleza vivem apenas da expectativa do grande acontecimento que está por vir. Isso pode ser interpretado como o vazio e falta de sentido da existência humana, onde a projeção e idealização dos acontecimentos é mais importante do que os fatos reais. Pode-se projetar essa ideia à vida comum, da mesma forma que costumamos fazer ao preparar uma viagem, onde a fase de planejamento é muitas vezes mais excitante do que o próprio passeio.
A obra não poupa os militares com seus regulamentos e procedimentos burocráticos, que parecem existir como próprio fim, não levando a lugar algum e aparentemente evitando qualquer ação que efetivamente produza efeitos práticos. Toca também em algo que sempre existiu na história humana, que é a criação de um inimigo comum, não importando se ele é real ou imaginário. Esse "inimigo" tende a concentrar esforços e unir a população para um objetivo comum, nem sempre nobre - não podemos esquecer que os judeus eram os "inimigos" da Alemanha nazista.
O Deserto dos Tártaros é um grande filme, porém um pouco lento, o que pode afastar as plateias modernas, acostumadas a assistir obras com montagens mais ágeis. Mas até mesmo essa lentidão pode ser vista como mais um signo, tentando transmitir à audiência a sensação de observar o deserto e não enxergar nada senão areia.
Nota: 4/5
Fabio Consiglio
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