Um filme por dia 2017 - 20/11 - A Missão (1986)
Título original: The Mission
A fé pura e idealista versus a fé moldada como uma corporação, a escolha entre ser aculturado ou escravizado; esses são os temas de A Missão, que conta a estória de monges jesuítas protegendo os índios dos portugueses escravagistas na América do Sul.
Os índios, assim como os padres jesuítas, são vistos de forma romantizada em A Missão e tratados quase como se fossem os herdeiros do paraíso da mitologia bíblica. Já os colonizadores são vilões absolutos e sem emoções, capazes de matar a sangue frio bebês e mulheres grávidas por interesses financeiros. Por conta disso, mesmo se enxergarmos a imposição da religião católica com olhos críticos - é doloroso vermos os índios vestidos como coroinhas e tendo seus cérebros lavados pelos dogmas da Igreja - a opção aos padres é a escravidão e os abusos de toda natureza. Enquanto os colonizadores objetificam os índios, o que permite qualquer ato bárbaro, aos menos os padres os subjetivizam, mesmo que para conseguir mais ovelhas para o rebanho.
Como não poderia ser em um filme com composições do Maestro, um dos pontos altos da obra é a música de Ennio Morricone, que emociona e cria a atmosfera mágica e mística necessária. Não à toa, os índios fazem seu primeiro contato amistoso com os brancos quando o Padre Gabriel (Jeremy Irons) toca no seu oboé o tema composto por Morricone, criando um vínculo através da música utilizando a mesma ideia de Contatos Imediatos do Terceiro Grau de 1977.
A Missão tem imagens belíssimas e cheias de simbolismo, como icônica cena do padre preso a uma cruz despencando de uma cachoeira, além de intepretações de atores no auge, como Robert de Niro e o seu Rodrigo Mendoza, o ex-caçador de índios que se converte e passa a proteger os selvagens. A soma de tudo isso produz uma obra emocionante que só não é perfeita por conta de pequenos problemas de ritmo no seu miolo. E não canso de citar a trilha sonora de Morricone, capaz até de seduzir selvagens no meio da floresta - imagine o que ela faz conosco.
Nota: 4/5
Fabio Consiglio
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