Um filme por dia 2017 - 16/03 - Os Oito Odiados (2015)



Título original: The Hateful Eight
O cinema utilizou diversas vezes o modelo de representação da sociedade através de um pequeno grupo de pessoas isoladas em determinado lugar. Podemos ver isso em obras clássicas como No Tempo das Diligências (1939), Um Barco e Nove Destinos (1944) e 12 Homens e uma Sentença (1957). Quentin Tarantino com Os Oito Odiados não só repete a fórmula como realiza um filme que se equipara em qualidade às obras-primas citadas.
Muitas ideias do filme foram retiradas, por incrível que pareça, da ficção científica O Enigma de Outro Mundo, em especial o conceito do grupo preso sem saber quem é o "monstro". Ennio Morricone fez a música dos dois filmes e Kurt Russell está em ambos os elencos. Mas isso não diminui a obra, pelo contrário, toda arte tem alto grau de recursividade e Tarantino o faz de forma a reinventar e não copiar.
Os Oito Odiados é impecável cinematograficamente: têm belas imagens, todos os personagens são fascinantes, não há cenas inúteis - tudo o que acontece leva a estória adiante. Até a violência extrema acaba ficando tão integrada a trama que não choca, é apenas mais um elemento do universo daquelas pessoas. Universo esse em que não existem bons e maus - todos são maus no final das contas - só mudam os lados, cada um cuidando de seus interesses; há alguma ética mas é mais baseada em honra do que em valores, não muito diferente do mundo real.
Em uma época em que a compaixão não existia, como simboliza a imagem do Cristo congelado, Os Oito Odiados mostra com crueza os tipos clássicos do faroeste, de uma forma tão convincente que acreditamos que eles realmente existiram e poderiam estar em qualquer época, inclusive na nossa.
Nota: 5/5


Fabio Consiglio

Comentários

Pau Kuri disse…
Muito boa escolha, é uma boa história! Uma história muito bem executada (um filme que tem que assisitr da HBO MAX ONLINE ) , interessante! A premissa do filme é simples, mas a execução é impecável. Temos algumas tomadas memoráveis e trilha sonora de primeiríssima, mas seu ponto mais forte está nos diálogos, que retratam bem o período no qual a película é situada sendo ao mesmo tempo modernos e ainda relevantes. Também há uma certa sensação claustrofóbica por não se ter para onde fugir e o fato da gravação ter boa parte sido feita em locação (ao invés de estúdio) ajuda nisso, pois percebe-se que estamos definitivamente diante de um ambiente gelado e que isso não é mera obra de computação gráfica. O elenco também está afiadíssimo, com destaque especial para Samuel L. Jackson, que pode muito bem estar diante de uma possível indicação ao Oscar, ainda que não se possa descartar nenhum dos atores para a honraria.
Fabio Consiglio disse…
Obrigado pelos comentários. Além de tudo isso, foi filmado em película 70mm, possivelmente a última obra cinematográfica a utilizar essa técnica. Continue a seguir o blog, abraço!

Fabio Consiglio

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