Um filme por dia 2017 - 29/03 - O Lagosta (2015)



Título original: The Lobster
Há muitos exemplos de distopias exploradas pelo cinema, desde Brazil: O Filme até os mais recentes, voltados ao público adolescente, Jogos Vorazes. O Lagosta segue essa linha com originalidade e um sutil humor negro, o que o destaca dos demais.
A obra se passa em uma sociedade que não permite que se viva sozinho, os casais são obrigatórios e os solteiros não são permitidos. Quem está sozinho é enviado a um hotel para achar um par dentro de um prazo determinado. Esgotado o tempo, quem não conseguir o seu par é transformado em um animal de sua preferência e enviado para a natureza. Lendo o texto parece até engraçado, porém o que vemos na tela transmite uma atmosfera sombria e pesada durante todo o tempo, os personagens quase nunca sorriem. Nesse ambiente opressivo, ninguém age com naturalidade, todos os movimentos, frases, atos são calculados.
O filme mantém o interesse durante todo o tempo, a cada momento novos elementos são adicionados e tudo vai sendo descoberto aos poucos, principalmente na sua primeira metade. Muito bem realizado, tem até boas cenas de câmera lenta - normalmente elas são abomináveis. Mas a grande diversão cerebral de O Lagosta é fazer analogias com a realidade. O que vemos nessa sociedade diegética pode ser refletida na sociedade real de diversas formas: a visão de que não se pode ser feliz sozinho, os ritos e punições semelhantes às nossas diversas religiões, a desumanização - o transformar-se em animal - de todos aqueles que não seguem as regras, que estão à margem da sociedade.
O sistema desumaniza e oprime mas no final das contas só acaba trazendo a tona o egoísmo inerente a todo ser humano, que em situações extremas coloca o instinto de sobrevivência em primeiro lugar. O amor é uma ilusão ou conveniência que desaba quando submetido a pressões extremas - esse conceito já foi usado com maestria em 1984 de George Orwell - e a obrigatoriedade do par só acentua o isolamento vivido por cada um. O Lagosta traz à tona esses questionamentos e muitos outros, ao mesmo tempo perturbando e fazendo pensar.
Nota: 4/5


Fabio Consiglio

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