Um filme por dia 2017 - 30/03 - Blind (2014)



Título original: Blind
Ingrid (Ellen Dorrit Petersen) perde sua visão já sendo uma mulher adulta e casada por conta de uma doença. Com essa premissa simples, Blind chama a atenção pela forma que usa artifícios da linguagem cinematográfica para enganar e confundir, no melhor sentido possível, o espectador durante toda a sua duração.
Ressalto o fato dela já ser adulta e casada porque isso implica que ela construiu uma infinidade de memórias visuais ao longo de sua vida. Porém nossas memórias são menos confiáveis do que costumamos acreditar e isso que torna Blind agradavelmente enigmático. O que vemos na tela é real, é a memória visual de Ingrid ou ainda é uma fantasia criada para preencher o vazio que se tornou a sua vida depois da cegueira? A obra é tão hábil na construção dessa confusão - palmas para a decupagem e montagem - que as vezes pensamos que uma cena que acabou de ocorrer pode ter sido nossa imaginação, como se fosse uma memória antiga que surgiu de relance e logo se esvaiu.
Abordando outros assuntos interessantes como a facilidade de encontrar fetiches e sexo na internet, ao mesmo tempo que torna as pessoas mais solitárias, e a forma que tratamos os deficientes desumanizando-os - não é mais uma pessoa, é um paciente - Blind é um ótimo respiro dos dramas hollywoodianos (o filme é uma co-produção entre Noruega e Holanda e falado em norueguês) que mostra como um realizador habilidoso pode transmitir por meio do cinema os mais diversos estados físicos e mentais do ser humano.
Nota: 4/5


Fabio Consiglio

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