Um filme por dia 2017 - 03/06 - Central do Brasil (1998)

Título original: Central do Brasil
Central do Brasil é um ótimo filme, não há dúvida quanto a isso. Mas também não há como negar a forma maniqueísta como ele, fortemente influenciado pelo neorrealismo italiano, mostra apenas um lado triste e decadente do Brasil, de uma forma tão acentuada que a obra não parece ser de 1998 e sim da década de 60 ou 70.
Fernanda Montenegro é Dora, uma professora aposentada que complementa sua renda escrevendo cartas para pessoas analfabetas na Estação Central do Brasil. É interessante notar que Dora não é uma pessoa nobre, ela é inescrupulosa em uma bem-vinda quebra de paradigma no que concerne à representação dos professores no imaginário popular. Inicialmente ela quer apenas ganhar dinheiro com o garoto Josué (Vinícius de Oliveira), que perdera a mãe e está vagando na estação. Porém, ao resolver ajudar o menino, Dora vai aos poucos recuperando a humanidade perdida em algum lugar dentro dela e ao final do filme não temos certeza de quem resgatou quem. Não é preciso comentar a interpretação de Fernanda Montenegro, absoluta, nos provocando ira e pena em uma mesma expressão facial. A obra é eficiente em humanizar a personagem, cheia de falhas e qualidades como qualquer um de nós e por fim reconhecendo os seus erros e até mesmo recuperando lembranças doces do seu passado que estavam escondidas em algum lugar da sua memória. A ânsia da direção em emocionar incomoda em alguns momentos, principalmente a música opressiva marcando em demasia determinadas cenas.
Central do Brasil emociona não só pela jornada de Dora rumo a redenção mas também pelas pessoas simples que solicitam as cartas, expondo suas intimidades para um desconhecido buscando algum conforto ao compartilhar suas estórias, como em uma sessão de análise. É verdade que falta sutileza e há uma certa manipulação da plateia mas isso não tira o brilho do filme, afinal manipular os sentimentos da audiência é um dos pilares da arte cinematográfica.
Nota: 4/5


Fabio Consiglio