Um filme por dia 2017 - 14/06 - Vício Inerente (2014)



Título original: Inherent Vice
A trama é mais confusa do que deveria e em alguns momentos não entendemos exatamente o que está acontecendo, mas o que fascina em Vício Inerente são os personagens e a atmosfera, emulando o clima dos anos 70 nos Estados Unidos.
Pode-se pensar em Vício Inerente como um noir passado em 1970 regado a drogas, com os detetives, policiais, gangsters e femme fatales tão comuns ao gênero. Por trás da complexa investigação comandada por Larry 'Doc' Sportello (Joaquin Phoenix) estão signos que revelam o sentimento da nação americana em uma época conturbada e cheia de transformações: a luta pelos direitos civis, a guerra do Vietnã, os movimentos de contracultura colocando as gerações em choque frontal. O filme nos leva a acreditar que para suportar toda a efervescência dessa panela de pressão, só estando constantemente entorpecido pelas drogas como o protagonista Doc. A obra mostra muito bem o desconforto da sociedade para lidar com os novos tempos, que por um lado brindam as pessoas com mais liberdade e tolerância e por outro revelam as mazelas de um estado poderoso em excesso, paranoico, vigiando e controlando tudo e todos. Nota-se a desconforto dos personagens com suas próprias vidas e o quanto eles desejam e projetam ser outras pessoas, como Doc que inveja, no bom sentido, o amor da família de Coy (Owen Wilson) e o policial 'Bigfoot' Bjornsen (Josh Brolin) que apesar de aparentemente desprezar a vida hippie de Doc na verdade a deseja.
Finalmente temos o estranho nome da obra, Vício Inerente, que no original em inglês (Inherent Vice) é um termo usado no seguro náutico que define defeitos ou problemas ocultos que podem causar deterioração ou sérios danos à embarcação e por não terem sidos detectados ou avisados não serão cobertos pela seguradora. Esse termo é perfeito para a época e o vício inerente pode ser o presidente Nixon, o racismo ou a intolerância generalizada na sociedade americana, a guerra fria, o flerte do governo com um estado absolutista ou até mesmo os movimentos de contracultura, que nunca foram bem vistos por todos. Se prestarmos muito atenção a narrativa investigativa, Vício Inerente acaba tornando-se confuso em excesso e até deixando de fazer sentido em alguns momentos; ao focarmos nos signos que seus personagens e sua trama representam, Vício Inerente se torna uma viagem divertida e a fotografia de uma época.
Nota: 4/5


Fabio Consiglio

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