Um filme por dia 2017 - 16/06 - Águas Turbulentas (2008)



Título original: DeUsynlige
O responsável por um crime hediondo tem direito a uma segunda chance? Esse é um dos questionamentos de Águas Turbulentas.
Jan Thomas (Pål Sverre Hagen), após cumprir pena pelo assassinato de uma criança quando ainda era um adolescente, sai da cadeia e passa a trabalhar como organista em uma igreja. O estigma do seu passado vai persegui-lo, apesar de suas alegações que a morte da criança, chamada Isak (Jon Vågenes Eriksen), foi um acidente. Os atos de Thomas atingiram, obviamente, a mãe de Isak e o confronto entre eles acaba se tornando inevitável. A obra acerta ao humanizar Jan, mostrando que apesar de ter cumprido a sua pena ele nunca se perdoou, como bem demonstra o ferimento em sua mão que nunca se cura e as bandagens com que aperta os dedos, como um cilício. É utilizado um pequeno truque aqui: é mostrado claramente para o público que a morte da criança foi realmente um acidente, afinal seria impossível convencer a audiência a ter empatia com Jan se ele realmente tivesse assassinado uma criança. É interessante notar a presença da religião e não e coincidência que Jan vá trabalhar em uma igreja - inconscientemente ele buscava a redenção e a fé é um caminho buscado por muitos para o perdão. O seu relacionamento com a pastora Anna (Ellen Dorrit Petersen) traz uma sutil crítica ao dogma de que deus é responsável por tudo, até pelas maldades do mundo, ao demonstrar que as crueldades só são consideradas pelas pessoas como um plano de deus quando estão distantes e não as envolvem diretamente.
Para alguns crimes, nenhuma punição parece ser suficiente. Mesmo porque o castigo apenas satisfaz um justificável desejo de vingança, afinal a vítima do crime nunca retornará. Águas Turbulentas ao mostrar os dois lados, da vítima e do agressor, mostra que no final das contas todos são punidos  e o único caminho para seguir em frente é o perdão.
Nota: 4/5


Fabio Consiglio

Comentários

Postagens mais visitadas