Um filme por dia 2017 - 15/06 - Um Retrato de Mulher (1944)



Título original: The Woman in the Window
Ao fim de Um Retrato de Mulher tive sentimentos ambíguos: da mesma forma que sua conclusão amarra as pontas e faz com que o filme tenha sentido, ela soa como trapaça e sentimos que fomos feitos de bobos por quase 2 horas.
Para falar de Um Retrato de Mulher é necessário falar sobre seu final e portanto quem não assistiu ao filme e não quer saber de uma revelação fundamental para a estória, por favor pare de ler aqui.
O Professor Richard Wanley (Edward G. Robinson) está admirando um retrato pintado de uma bela moça em uma loja quando ela, como por magia, aparece por detrás dele, alegando ter posado para a pintura e que gosta de ver a reação das pessoas ao visualizar o quadro. Eles flertam e acabam na casa da moça, Alice Reed (Joan Bennett), mas um amante aparece, ele agride e luta com o professor que para se defender mata o homem com uma tesoura. A partir daí o prof. Wanley e Alice se livram do corpo e passam a ter de escapar da investigação da polícia e outros problemas que surgem na trama. Tudo o que se passa na estória é antecipado de alguma forma: Wanley estava, no início do filme, dando uma aula sobre os tipos de assassinato e como o motivado pela legítima defesa era diferente; ele também conversava com amigos sobre a meia idade e a luta interna entre o desejo de uma aventura e o medo de correr o risco da empreitada. Todos os fatos se desenrolam com coincidências demais, como se criados pela mente de alguém, como se fosse um sonho... E aí que chegamos ao final, que dá coesão a estória ao mesmo tempo que frustra a audiência: toda a aventura do professor foi um sonho! A mulher, Alice, nunca existiu fora do quadro e nem houve assassinato.
Utilizar o sonho como final de uma estória não parece justo, afinal é como se todo o esforço emocional e intelectual que fizemos para acompanhar a estória e seus personagens foi em vão. No caso de Um Retrato de Mulher, parece-me que o diretor Fritz Lang brincou não só com a audiência mas com o próprio cinema. As coincidências improváveis e pequenos erros, como a falta de furos no paletó do homem assassinado ou os seus olhos ora abertos ora fechados, acabam passando despercebidos porque as plateias foram condicionadas com as convenções da linguagem cinematográfica. Um Retrato de Mulher explicita o caráter onírico do cinema e ficamos bravos não porque nos sentimos enganados mas porque fomos despertados desse sonho.
Nota: 4/5


Fabio Consiglio

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