Um filme por dia 2017 - 09/10 - Dívida de Honra (2014)



Título original: The Homesman
Dívida de Honra é um faroeste interessante: da mesma forma que No Tempo das Diligências de 1939, mostra pessoas diferentes obrigadas a conviver dentro de uma diligência em uma viagem, mas de forma distinta do clássico de John Ford os viajantes não representam as diversas classes sociais do antigo oeste norte-americano e sim um apanhado geral dos excluídos, como a mulher considerada feia que não consegue casar, o desertor que vive da mendicância e as esposas que não suportaram a pressão da dura vida daquela região árida e acabam ficando malucas. A feia e o desertor partem em uma missão para levar as três mulheres que enlouqueceram de volta para as suas famílias, em um ambiente mais realista do que estamos habituados a ver nos faroestes clássicos, com cidades desertas, casas de barro e uma pobreza generalizada.
Hilary Swank é a escolha perfeita para a protagonista Mary Bee Cuddy, mulher bem educada e fora dos padrões comumente associados à beleza feminina. Hilary imprime verdade à personagem, tornando a empatia com o público algo natural. Podemos dizer o mesmo de Tommy Lee Jones (que também é o diretor do filme) como George Briggs, que não cai na caricatura e mantém o personagem todo o tempo ambíguo, provocando na plateia às vezes raiva e às vezes pena. Outra grande qualidade da obra é o destino de um dos protagonistas, que não revelarei obviamente mas surpreende e choca ao mesmo tempo que faz todo o sentido dentro da estória e do momento emocional vivido por ele.
Dívida de Honra parece um filme simples, mas guarda virtudes em seus detalhes. Nos sentimos próximos dos personagens e conseguimos entender suas motivações, mesmo das mulheres que perderam a razão - quantos de nós já não chegaram perto, guardadas as proporções, de atitudes como as delas? É um raro faroeste com alma feminina dentro de um gênero no qual podemos contar em uma mão as estórias contadas sob o ponto de vista das mulheres, com destaque para o excepcional Johnny Guitar de 1954. Dívida de Honra pode se orgulhar de participar desse clube exclusivo.
Nota: 4/5


Fabio Consiglio



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