Um filme por dia 2017 - 12/10 - Alexandria (2009)



Título original: Agora
"Homens bons fazem coisas boas, os homens maus as más, mas só a religião consegue fazer com que homens bons façam coisas más". Essa frase do físico Richard Feynman, ganhador do Prêmio Nobel de 1965, pode ilustrar a principal mensagem transmitida por Alexandria.
Baseado em fatos históricos (falarei sobre isso mais adiante), a obra mostra a ascensão do cristianismo durante o Império Romano na cidade de Alexandria, com maior foco na filósofa Hipátia (Rachel Weisz). Mesmo não sendo um grande filme pois apresenta problemas de ritmo, abusa de clichês e apresenta uma estrutura que poderia ser melhorada - reparem como a tomada da Biblioteca de Alexandria, que acontece antes da metade do filme, soa como o clímax da estória e permanece como a cena mais impactante até o final - Alexandria rompe com o modelo mental comum no ocidente que enxerga o cristianismo como uma religião calma, passiva e não violenta. Como qualquer outro crente, os cristãos defendem cegamente os seus dogmas e massacram os que se recusam a converter-se e é de certa forma chocante vermos fanáticos matando pessoas e destruindo obras de arte em nome de Cristo, em um paralelo óbvio com os mais recentes Talibã e Estado Islâmico.
Apesar da crítica as religiões ser justificável, Alexandria buscou o caminho mais fácil para fazer isso, reproduzindo várias passagens históricas que mostram os cristãos como selvagens e omitindo outras que deveriam mostrar os atos monstruosos - por exemplo torturar adversários em praça pública até a morte - do prefeito de Alexandria Orestes (Oscar Isaac), rival do líder cristão Cirilo (Sammy Samir). Essa polarização, mostrando um lado como bom e outro como mau, manipula a audiência de forma a convencê-la sobre os argumentos dos realizadores, mas empobrece o entendimento histórico e a discussão sobre as causas e efeitos dos acontecimentos.
Mesmo com falhas, Alexandria deixa claro a incompatibilidade de crença e ciência: na ciência tudo deve ser posto em dúvida, enquanto na crença qualquer coisa escrita em nome das divindades deve ser seguido cegamente. Hipátia, fiel à ciência, pagou com a vida por não abandonar os seus princípios e não abraçar o cristianismo, cujos seguidores iriam fazer com que todos fossem convencidos do amor e compaixão de Cristo, mesmo que para isso fosse necessário matar, torturar e destruir.
Nota: 3/5


Fabio Consiglio



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