Um filme por dia 2017 - 25/10 - Harakiri (1962)



Título original: Seppuku
Harakiri é lindo, profundo e impecável, uma obra-prima. Quais seriam as verdadeiras intenções do samurai Hanshiro Tsugumo (Tatsuya Nakadai) ao chegar na residência de um senhor feudal e solicitar um lugar para praticar o seppuku (ritual suicida conhecido no ocidente como harakiri)?
A trama se passa em 1630 durante o declínio dos samurais, já que são tempos de paz e o xogum Tokugawa estava aos poucos transformando os samurais de guerreiros em burocratas. Por conta disso, havia uma grande quantidade de samurais sem senhor, os chamados ronin, vivendo com dificuldades e privações. A obra tem poucas cenas de ação, focando nos embates psicológicos; tudo é tão bem feito e envolvente que mesmo sendo um filme lento e com muitos diálogos, não há um só momento desnecessário ou tedioso. É difícil falar sobre destaques em um filme beirando à perfeição como Harakiri, mas chamo a atenção acerca da fotografia, em preto-e-branco e belíssima - a cena dos samurais no cemitério é inesquecível - e dos atores, todos profundamente mergulhados em seus personagens - observem os closes nos rostos destacando as emoções.
Sem revelar muito da estória, que vai revelando-se aos poucos fazendo uso de flashbacks, Harakiri conta uma trama de vingança contra as pessoas que fizeram o mal ao mesmo tempo que põe em dúvida a validade dos códigos e tradições dos samurais, a honra samurai. As tradições, tão valorizadas pelas classes dominantes, só são invocadas quando atendem aos interesses dos poderosos, servindo muitas vezes para separar as classes sociais com uma ideologia beirando a crença religiosa - é muito fácil convencer um crente a fazer algo que vai de encontro com os seus dogmas.
A conclusão de Harakiri é satisfatória dentro das circunstâncias vividas pelos protagonistas, mas não é doce nem apresenta um final feliz, já que mostra os poderosos manipulando as informações e códigos sociais como sempre fizeram. A vingança trouxe o júbilo, mas como disse Tsugumo, a felicidade tende a durar apenas durante um curto período.
Nota: 5/5


Fabio Consiglio



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