Um filme por dia 2017 - 16/10 - Blade Runner 2049 (2017)



Título original: Blade Runner 2049
Blade Runner 2049 honra o filme original - Blade Runner de 1982 - com seu visual e atmosfera, que não só emulam a obra da década de 80 como também expandem e complementam o seu universo.
Há um novo Blade Runner (caçador de androides ou replicantes), chamado de K (Ryan Gosling), ele mesmo de uma nova geração de replicantes obedientes. Caçando os androides remanescentes de gerações mais antigas, acaba deparando-se com um mistério que pode mudar a dinâmica entre humanos e replicantes.
Há em Blade Runner 2049 signos diversos: a interação entre K e a assistente/namorada virtual Joi (Ana de Armas) remete a materialização da consciência da mesma forma que o Grilo Falante de Pinóquio; o brinquedo em forma de cavalo pode tanto simbolizar o Cavalo de Troia - o segredo escondido que tem o potencial de destruir os humanos - ou os componentes animais inconscientes e irracionais do homem; todos os replicantes choram ou demonstram fortes emoções, ao contrário dos humanos, resgatando a ideia já vista no Blade Runner original e até em 2001: Uma Odisseia no Espaço de que as pessoas perderam sua humanidade de tal forma que as máquinas demonstram mais emoção e compaixão do que as pessoas naturais; a jornada de transformação de K, explicitada por seus nomes, inicialmente K que é um nome de máquina, genérico e constante, com comportamento previsível como o de um computador, alterado para Joe, nome humano e que remete a GI Joe (não os bonequinhos mas o significado original, Government Issue Joe, o soldado raso), um combatente  na guerra dos replicantes contra os humanos.
O diretor Denis Villeneuve, do excelente A Chegada, utiliza em Blade Runner 2049 uma estratégia parecida com a utilizada no seu citado filme anterior, levando os espectadores a acreditarem que já decodificaram a trama quando na verdade fomos induzidos a tirar falsas conclusões - essa "surpresa" gera imensa satisfação, da mesma forma que sentimos prazer ao sermos enganados por um ilusionista. Há tropeços, sendo o mais relevante a construção dos vilões, que se encaixariam melhor em um filme de 007 dada a sua composição caricata. Aliás, todos os pontos que considero falhas no roteiro envolvem os vilões: a facilidade com que a replicante Luv (Sylvia Hoeks) entra e sai do posto policial, o por quê K foi mantido vivo em determinada cena quando o lógico seria Luv executá-lo, a cena de apresentação do vilão chefe Niander Wallace (Jared Leto), que realiza um ato de violência sem sentido apenas com o intuito de demonstrar o quanto o personagem é perigoso.
Na sua conclusão, que amarra todas as pontas de forma extremamente satisfatória, há uma belíssima rima temática com o Blade Runner original - até o tema musical de Vangelis daquele filme é invocado - mostrando que os destinos dos protagonistas são de certa forma muito semelhantes aos da obra de 1982. Apenas torço que esse bem sucedido retorno ao universo de Blade Runner não gere continuações que acabem diluindo a força de sua estória, tão bem contada em dois filmes excelentes.
Nota: 4/5


Fabio Consiglio



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