Um filme por dia 2017 - 19/05 - El topo (1970)

Título original: El topo
É difícil falar sobre El topo. Criativo, com planos belíssimos e simbolismo interessante, peca pela irregularidade, algumas vezes genial e outras parecendo amador, provocando riso involuntário. Além disso há uma sombra, uma falha ética imperdoável na sua realização que obscurece essa obra de Alejandro Jodorowsky.
El topo é um faroeste surreal com imagens que remetem a sonhos e pesadelos, contando a jornada de El Topo (Alejandro Jodorowsky) nas várias fases da sua vida. Nada no filme deve ser entendido de maneira literal, tudo remete ao simbólico e ao inconsciente. O número de interpretações é infinito, mas gosto de pensar nas fases da vida do personagem título como infância, maturidade e velhice. A infância é quando El Topo é um herói, resolvendo todos os problemas de maneira simplista, como uma criança. Ao abandonar o filho e partir com uma mulher, ele literalmente abandona a infância e passa a ter de lidar com problema maiores, usando de trapaças e artimanhas, como um adulto normal. Na velhice, quando se torna uma espécie de monge, reflete sobre o seu passado e tenta compensar os seus atos pregressos ajudando os outros, até que reencontra o filho que ele abandonou, como um velho que se torna novamente criança reencontrando a infância por conta da idade. Muitos planos do filme são inesquecíveis, mas nem todos ficarão na memória pela qualidade artística, mas pela crueldade. A produção, liderada pelo diretor Alejandro Jodorowsky, abusou e matou animais em grande quantidade para chocar a audiência com cenas gráficas. Isso é imperdoável e por melhor e mais interessante que seja uma obra nada justifica essa atitude.
El topo é um bom filme - poderia ser grande se fosse mais regular. A obra não merece ser julgada pelas ações de seus realizadores e quem deve ser responsabilizado pelas atrocidades cometidas é Alejandro Jodorowsky. O sofrimento que ele causou aos animais envolvidos nunca será apagado; como consolo, o seu grande sonho era produzir uma continuação para El topo, projeto para o qual ele nunca conseguiu o financiamento necessário. Castigo muito pequeno para um monstro como Jodorowsky.
Nota: 3/5


Fabio Consiglio