Um filme por dia 2017 - 27/05 - O Sol É Para Todos (1962)
Título original: To Kill a Mockingbird
Em 1962, os movimentos pelos direitos civis nos Estados Unidos estavam caminhando para o seu apogeu. Época perfeita para um filme como O Sol É Para Todos, que se tornou um clássico não só pela sua temática mas também pela sua qualidade, com destaque para a sua inteligente estrutura narrativa.
Atticus Finch (Gregory Peck) é o advogado de defesa de Tom Robinson (Brock Peters), homem negro acusado de estupro. Tudo se passa no sul dos Estados Unidos na década de 30, durante a grande depressão. A escolha da época é um grande acerto, pois é distante o suficiente para que enxerguemos tudo com uma certa reverência histórica ao mesmo tempo que incomoda o fato de que passados 30 anos de injustiças contra os negros as coisas mudaram muito pouco. Tudo é mostrado a partir do ponto de vista dos filhos de Atticus, Jem (Phillip Alford) e Scout (Mary Badham), o que se mostra como outra decisão inteligente do roteiro, afinal apenas crianças ainda não contaminadas completamente por aquele ambiente é que poderiam ser isentas o suficiente para nos contar a estória. Outro detalhe, a menina Scout tem nome e costumes de certa forma andróginos, o que reforça a negação de qualquer preconceito, inclusive o sexismo. E o advogado Atticus é sempre tratado pelo seu nome inclusive pelos filhos, que não costumam o chamar de dad (papai). À primeira vista pode parecer um tratamento menos carinhoso mas ao olharmos cuidadosamente isso representa signos interessantes: o advogado Atticus era para aquele população, inclusive seus filhos, quase que uma entidade ou um super-herói e chamá-lo pelo seu nome próprio, a sua identificação exclusiva, era uma forma de carinho e respeito. Além disso, o termo "papai" foi banalizado e deixou de ser um nome afetivo para ser apenas uma convenção, tanto que a suposta vítima de estupro Mayella (Collin Wilcox Paxton) chama o seu alcoólatra, racista e violento progenitor Bob Ewell (James Anderson) de papai.
O tema principal de O Sol É Para Todos é a empatia e Atticus diz em um momento que ninguém pode compreender o outro se não enxergar as coisas desde o seu ponto de vista, se não entrar na pelo do outro e caminhar com ela. Para completar a lição dada pela obra temos o deficiente Boo Radley (Robert Duvall), imaginado como um monstro pelas crianças que nunca o tinham visto mas que se revela uma pessoa doce e heroica ao final. Assistir O Sol É Para Todos é uma ótima alternativa para qualquer aula de ética, cidadania ou civilidade, com a vantagem de fazer rir e chorar como apenas um grande filme consegue fazer.
Nota: 5/5
Fabio Consiglio
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