Um filme por dia 2017 - 24/05 - Dr. Fantástico (1964)



Título original: Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb
Em plena guerra fria e menos de dois anos após a crise dos mísseis em Cuba, Dr. Fantástico reflete os temores de uma época, mas não só isso: a obra revela o lado mais sombrio da natureza humana.
Dr. Fantástico é uma comédia de humor negro, mas os fatos que ela nos obriga a encarar faz dela na verdade uma comédia de humor angustiado. O General Jack D. Ripper (Sterling Hayden), um neurótico que acha que até a fluoretação da água faz parte do complô comunista, ordena um ataque nuclear não autorizado a URSS. Isso iniciaria uma guerra nuclear com grande potencial para acabar com toda a vida na terra. É assustador notar como todos os eventos são plausíveis e como as autoridades tratam de forma negligente a vida humana, discutindo a morte de 20 milhões de pessoas como algo aceitável.
Peter Sellers é um show a parte, interpretando três personagens, com destaque obviamente para o Dr. Fantástico. Alemão que migrou para os Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial, continua com uma porção nazista, representada pelo seu braço direito, o qual ele não consegue controlar e continua saudando o Führer. Isso também demonstra que toda administração política, seja americana ou não, mantém uma faceta nazista, sempre disposta a perseguir os seus próprios interesses e os da elite, sacrificando qualquer comportamento ético.
Finalmente Dr. Fantástico mostra a humanidade como nada mais do que uma espécie animal ligeiramente mais inteligente do que as outras. A motivação final é apenas sobreviver e procriar e a alegria demonstrada pelos senhores da guerra ao acharem a solução para a sua própria sobrevivência é assustadora - como fanáticos muçulmanos, eles viveriam no paraíso dentro de minas subterrâneas, sem muito trabalho e com 10 mulheres cada um, a fim de repopular rapidamente o planeta.
Dr. Fantástico é muito engraçado e está na lista do American Film Institute dos 100 mais engraçados filmes americanos, na terceira posição. Mas o seu humor, que mostra aonde chegamos como espécie, provoca um riso desesperado.
Nota: 5/5


Fabio Consiglio

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