Um filme por dia 2017 - 25/05 - Ela (2013)
Título original: Her
Em certo momento de Ela, é dito que "O passado é apenas uma estória que contamos para nós mesmos". A obra nos mostra que não só as nossas memórias são em grande parte produto de nossa imaginação como também nossos sentimentos.
O recém separado e solitário escritor Theodore (Joaquin Phoenix) descobre um novo produto, um OS (Operational System - Sistema Operacional) desenhado para satisfazer suas necessidades, como um assistente pessoal. O avançado sistema (voz de Scarlett Johansson), chamado de Samantha, aprende com o convívio e parece ter sentimentos. Uma afeição entre os dois, homem e software, se desenvolve e eles acabam namorando. Pode até parecer absurdo ao se ler, mas Ela é tão bem realizado que não só acreditamos em tudo isso como torcemos pelo casal. Palmas para Joaquin Phoenix e Scarlett Johansson que conseguem - ela só com a voz - dar uma dimensão humana ímpar aos dois personagens. É impossível não sentir a angústia, solidão e medo de Theodore e a paixão adolescente de Samantha - afinal ela era um OS recém nascido - sentimentos esses que evoluirão para amor por parte de Theodore - quando ele aceita de fato a inusitada situação - e dúvida por parte de Samantha, por conta de seu amadurecimento.
O que está por trás dessa engenhosa peça cinematográfica é a constatação de que o amor não existe de fato, ele é uma criação das nossas mentes. Aqui vemos o amor idealizado e a projeção refletida no ser amado de forma literal e extrema, até colocando em dúvida a necessidade de relacionamentos reais - Theodore foi plenamente feliz convivendo apenas com uma voz, ou seja, ele com a sua projeção de namorada perfeita.
Duvidar dos sentimentos de Samantha ou classificá-los como algo menor pode ser perigoso: pode-se dizer que todos os seus atos eram apenas linhas de programação, mas e quanto a nós? Quanto do que fazemos não é programado, seja pelo DNA ou seja por comportamentos herdados de nossos ancestrais evolutivos? Isso sem contar com as convenções sociais e familiares - a forma como fomos criados - que exerce mais influência na maneira como somos e agimos do que gostamos de assumir. Por fim, pode-se dizer que em um relacionamento real temos a sensação de posse da pessoa amada. A palavra correta é essa, sensação, ou melhor, ilusão de posse. Porque como acontece com os softwares, OSs inclusive, nós não temos a posse e sim a licença de uso. Com pessoas o mecanismo é semelhante e essa licença pode ser revogada a qualquer momento sem aviso prévio.
Nota: 5/5
Fabio Consiglio
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