Um filme por dia 2017 - 04/09 - Amarcord (1973)



Título original: Amarcord
Usando as recordações de sua juventude, Federico Fellini desnuda a alma italiana com graça e beleza em Amarcord.
O título da obra já revela a inspiração para as pequenas historietas envolvendo Titta (Bruno Zanin), sua família e a pequena comunidade da costa italiana na década de 1930, já que amarcord é a forma fonética de io me ricordo (eu me lembro), expressão no dialeto da região de Emilia-Romagna, berço de Fellini. Para quem é descendente de italianos, tudo soará trivial, mas por trás das situações engraçadas e pitorescas as dicotomias italianas são expostas: a brutalidade oculta por gestos aparentemente inocentes e brincadeiras, a adoração por Mussolini e a tendência ao fascismo, a hipocrisia religiosa. Essa última em especial é ilustrada por duas cenas fantásticas: a da confissão, onde o padre ouve os supostos pecados dos jovens de forma automática e despreocupada e a chegada de novas prostitutas ao bordel da cidade, que desfilam pela piazza como se fosse uma procissão, revelando a verdadeira devoção dos italianos. Há diversas outras cenas antológicas, como o pavão na fonte ou a imensa face falante de Mussolini, além daquelas que mostram situações ao mesmo tempo engraçadas e familiares, como o tio desequilibrado de Titta que sobe em uma árvore e se recusa a descer até que lhe arranjem uma mulher.
Para os italianos ou descendentes, Amarcord cria uma conexão imediata; para os outros, talvez os descendentes de Rômulo e Remo pareçam exagerados, malucos e até delinquentes (adjetivo muito usado no filme), mas no fundo eles são caricaturas de todas as pessoas, independente da raça. Os vários personagens com características marcantes criam um mosaico humano que impedem que qualquer um fique apático, tornando Amarcord uma experiência única e inesquecível mesmo que não se entenda exatamente o por que, e é exatamente isso o que se espera de uma obra de arte.
Nota: 5/5


Fabio Consiglio

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