Um filme por dia 2017 - 11/09 - It: A Coisa (2017)



Título original: It
It: A Coisa é eletrizante como um passeio em um trem fantasma, onde cada susto dá satisfação e gera alívio depois de terminada a tensão. Por trás de uma obra extremamente bem feita e divertida, é possível enxergar elementos muito mais assustadores do que o palhaço Pennywise.
A pequena Derry, no Maine, guarda um segredo aterrorizante por trás de suas estatísticas anormalmente elevadas de desaparecimentos: a cidade é lar de uma criatura, normalmente travestida de palhaço, que captura e devora pessoas, especialmente crianças, assumindo a forma dos mais obscuros medos guardados nas mentes de suas vítimas. Baseado no livro homônimo de Stephen King, It: A Coisa consegue transpor para a tela o clima de pavor e união das crianças que enfrentam Pennywise (Bill Skarsgård), adaptando e atualizando a primeira parte da estória, com os personagens ainda pré-adolescentes, de forma correta (o livro passava-se em 1959, o filme em 1989). Há belas cenas, como logo no inicio o garoto correndo atrás do barquinho de papel em plano plongê, e as assustadoras, como o palhaço saindo da tela durante uma projeção de slides e atacando as crianças - essa especialmente é interessante pela metalinguagem envolvida, já que nos faz temer se Pennywise não sairia da tela do cinema para nos devorar.
Mas o verdadeiro pavor causado por It: A Coisa não vem do monstro, mas das pessoas, e Pennywise apenas reflete a crueldade existente em cada uma delas, inclusive as crianças. O que dizer de um bullie que atormenta as crianças menores a ponto de escrever o seu nome com um canivete na pele da vítima? Ou do pai que se insinua sexualmente para a filha, chegando quase ao ponto de abusá-la?
Além disso temos o principal signo que se esconde na lenda do monstro devorador, insinuado pelo ciclo de Pennywise, que aparece de 27 em 27 anos, bem próximo do tempo que se costuma definir como uma geração, 25 anos. Na obra vemos que as crianças são ignoradas, criadas de forma negligente, como se elas fossem indesejadas. Pennywise seria então, com a conivência dos adultos, o responsável por eliminar a prole inconveniente, executando um aborto tardio, aborto esse que não foi feito no período gestacional por pressão religiosa, familiar ou falta de coragem. Será Pennywise um demônio traiçoeiro ou apenas um executor dos desejos inconfessáveis das pessoas de bem?
Nota: 4/5


Fabio Consiglio

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