Um filme por dia 2017 - 23/07 - Blade Runner, o Caçador de Andróides (1982)



Título original: Blade Runner
O escritor Philip K. Dick teve várias de suas obras adaptadas para o cinema, como O Vingador do Futuro, Minority Report: A Nova Lei e O Pagamento. Dentre todas as suas estórias, que nos desafiam mostrando os caminhos que a tecnologia pode tomar e suas consequências nas pessoas, a de Blade Runner é a que gerou o filme mais impactante em termos de qualidade e significados, permanecendo novo e influente mesmo com 35 anos de idade.
Blade Runner, baseado no conto Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?, conta a estória de quatro androides que estão ilegalmente na Terra e são perseguidos por Rick Deckard (Harrison Ford), um caçador de androides aposentado. A obra respeita a inteligência do público e nem tudo é explicado com detalhes, como por exemplo o que aconteceu com o planeta Terra para se tornar um lugar miserável com noite e chuva eternas - o que importa é que a Terra só é habitada pelos que não podem ir embora ou não tem condições financeiras de abandonar o planeta. O que impera é o artificial - não há animais naturais, só fabricados - e as telas gigantes com imagens publicitárias, e é interessante notar como o apartamento de Deckard renega essa realidade, com decoração remetendo aos velhos tempos, provavelmente mais doces na memória e imaginação do velho policial.
Além do visual fantástico (marca registrada do diretor Ridley Scott), o que fascina e mantém Blade Runner interessante em qualquer época é a quantidade de símbolos e interpretações que sua estória abriga, por exemplo: Deckard é um humano ou é um androide? A androide Rachael (Sean Young) pergunta a ele se já foi submetido ao teste Voight-Kampff, que é feito para diferenciar humanos de androides, e ele não responde; tudo o que sabemos sobre a família de Deckard são algumas fotos antigas vistas em seu apartamento, aparentemente desconexas entre si, que poderiam ser memórias implantadas; os sonhos com o unicórnio, que pode ser visto como uma representação do artificial, daquilo que é criado pelo homem, e que seriam uma característica dos androides. Finalmente algo mais sutil: os androides não seriam mortos quando eliminados mas aposentados (retired no original); Deckard no início do filme estava aposentado (ele saiu do retirement) e poderia ser um androide que foi reativado para cumprir uma nova missão.
As interpretações dos signos encontrados em Blade Runner são inúmeras: os quatro androides podem ser vistos como os indesejados que a sociedade não quer abraçar pois temos a prostituta Pris (Daryl Hannah), o trabalhador braçal e brutamontes Leon (Brion James), a mulher forte e independente Zhora (Joanna Cassidy) e o líder rebelde Roy (Rutger Hauer). A simbologia religiosa já perto da conclusão é bastante clara, com Roy exibindo a chaga na palma da mão como Cristo e segurando a pomba branca, como se repetindo o pacto entre deus e os homens da mitologia cristã com o pai (humano Deckard), o filho (androide Roy) e a pomba representando o espírito santo. Roy salva o humano e se sacrifica, mostrando que não só o seu intelecto e força eram superiores às das pessoas mas também sua moral.
Finalmente, Blade Runner toca na busca do criador e no medo da morte e por isso é tão fácil projetar-se em Roy. Se deus existisse e o encontrássemos, como no caso de Roy, e ele se mostrasse totalmente indiferente às dores e medos da sua criatura da mesma forma que o criador Dr. Eldon Tyrell (Joe Turkel), talvez fizéssemos o mesmo que Roy: matar o criador afundando seus olhos, destruindo suas janelas da alma, afinal as janelas não são mais necessárias na ausência da alma.
Nota: 5/5


Fabio Consiglio

Comentários

Unknown disse…
Eu ainda não superei o fim e as teorias que existem em torno da humanidade de Rick Deckard, é uma grande história, cheia de mistério, romance e drama. O novo filme blade runner foi um dos mehores filmes de ficção científica que foi lançado. O ritmo é bom e consegue nos prender desde o princípio O filme superou as minhas expectativas, o ritmo da historia nos captura a todo o momento. No elenco vemos Ryan Gosling e Harrison Ford, dois dos atores mais reconhecidos de Hollywood que fazem uma grande atuação neste filme. Realmente a recomendo.
Fabio Consiglio disse…
Fernanda, o Blade Runner original é fantástico, tanto que há outro texto no blog sobre ele: https://faroartesepsicologia.blogspot.com/2011/11/o-hibridismo-em-blade-runner-ficcao.html.
A sequência conseguiu manter a qualidade do original, graças em grande parte ao diretor Denis Villeneuve - veja o texto sobre o filme no blog: https://faroartesepsicologia.blogspot.com/2017/10/um-filme-por-dia-2017-1610-blade-runner.html.
Obrigado pelos comentários, continue acessando o blog, abraço!

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