Um filme por dia 2017 - 13/08 - O Bebê de Rosemary (1968)



Título original: Rosemary's Baby
Não há sustos, monstros ou sangue e mesmo assim O Bebê de Rosemary é assustador. Usando apenas a arte cinematográfica para criar sugestão - muitas pessoas juram ter visto o bebê e achado ele horrível, mesmo com a criança nunca ser mostrada no filme - Roman Polanski criou uma obra-prima de terror sobrenatural ou um drama sobre uma grávida extremamente perturbada, cabe a quem assiste decidir.
Rosemary (Mia Farrow) e Guy Woodhouse (John Cassavetes) mudam-se para um novo apartamento, cercado por vizinhos estranhos que passam a intrometer-se na vida do casal. Antes avesso a essa nova amizade, repentinamente Guy passa a frequentar a residência dos vizinhos e a incentivar Rosemary a estreitar laços, até que a moça engravida e as coisas ficam cada vez mais insólitas.
Há um grande cuidado com os detalhes em O Bebê de Rosemary e tudo o que aparece na tela mostra-se relevante em algum momento, em um jogo de pista-recompensa que dá prazer à audiência: o medo de tocar a barriga de Rosemary demonstrado por Guy, o vizinho Roman Castevet (Sidney Blackmer) que na festa de ano novo anuncia que aquele será o ano um, o casal Woodhouse jogando scrabble, jogo que será importante para desvendar parte da trama. Todas essas pistas são espalhadas de forma natural e fluente, nunca parecendo ter sido plantada apenas para gerar espanto no público. Outro grande acerto é a composição da personagem Rosemary, com uma inocência e passividade quase infantil, cuja personalidade nos permite acreditar nas coisas que ela é capaz de se submeter por imposição dos outros.
É possível enxergar toda a estória de O Bebê de Rosemary como um conjunto de coincidências e alucinações e o próprio diretor Roman Polanski afirma ter deixado tudo ambíguo de forma proposital. Não consigo enxergar dessa forma, pois apesar de haver alguma ambiguidade o número de coincidências é tão grande ao descontarmos o elemento sobrenatural que o filme é mais verossímil se abraçarmos a explicação mais óbvia e fantástica, que o bebê de Rosemary realmente é o filho do demônio. Mas isso pouco importa, o que não sai da cabeça ao final de O Bebê de Rosemary é quando alguém diz "Ele tem os olhos do pai" sem que o bebê seja mostrado, deixando que cada um "veja" o bebê dentro da sua cabeça; nada melhor para criar os mais sombrios pesadelos do que a nossa própria imaginação.
Nota: 5/5


Fabio Consiglio

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