Um filme por dia 2017 - 12/12 - Antiporno (2016)
Título original: Anchiporuno
Antiporno foi feito sob encomenda para ser um título dos chamados Roman Porno (filme pornográfico leve, sem sexo explícito e com uma estória, daí o nome que deriva de romance pornô) da produtora Nikkatsu. Porém o diretor Sion Sono entregou uma obra que subverte os Roman Porno, expondo a idiossincrasia hipócrita do Japão (e o mundo) em relação ao sexo e o papel da mulher na sociedade machista.
A trama começa mostrando a artista Kyôko (Ami Tomite) em seu apartamento de cores básicas e quase sem mobiliário, como uma casa de bonecas, recebendo a sua secretária Noriko (Mariko Tsutsui) e preparando-se para conceder uma entrevista para uma revista famosa. A relação entre as duas é um jogo de dominação e submissão mas logo tudo muda e até as naturezas do apartamento e das duas mulheres são colocadas em dúvida.
Não revelarei mais sobre a trama para não estragar a experiência de quem ainda não viu o filme, mas posso dizer que a crítica a sociedade japonesa é crua e chocante, tocando em temas como a binaridade imposta às mulheres - ou se é uma santa virgem ou se é uma puta, não havendo meio termo - e a relação beirando o doentio dos japoneses com o sexo, em um país que proíbe por meio de lei a exibição da genitália masculina ou feminina mas vê como normal alguns fetiches envolvendo animais e até crianças.
A indústria pornô japonesa é mostrada como violenta e obscura e um caminho sem volta para as mulheres que se envolvem com ela, como demonstra a metáfora visual do lagarto dentro de uma garrafa que pode ser visto no apartamento de Kyôko - o lagarto cresceu dentro de garrafa e por conta do seu tamanho não consegue mais sair.
Antiporno têm planos belíssimos mas não é um filme fácil por conta da sua estética única e cenas que podem incomodar, mas é recompensador para os que se aventurarem a assisti-lo. Como uma verdadeira obra de arte desafia o público e ousa, literalmente, não entregar o que a plateia esperava.
Nota: 5/5
Fabio Consiglio
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