Um filme por dia 2017 - 14/12 - As Mulheres (1939)



Título original: The Women
As Mulheres pode parecer machista e desatualizado ao mostrar a dependência feminina em relação aos homens e por isentar os maridos da culpa pelas traições e consequente fracasso nos casamentos - a visão é que a sedutora que "roubou o homem" da outra é a verdadeira responsável. Mas ao olharmos com mais cuidado à sociedade contemporânea, percebemos que as coisas não mudaram muito nesses quase 80 anos.
A obra retrata as desilusões amorosas, as fofocas, as traições entre casais e entre amigas, tudo do ponto de vista feminino - não há sequer um homem no elenco, todo formado por mulheres. O grupo de mulheres é retratado como se fossem animais tentando sobreviver na selva já nos créditos, que mostra cada personagem associada a um animal, por exemplo Mary (Norma Shearer) que foi traída pelo marido é um cervo, uma presa, enquanto a sedutora Crystal (Joan Crawford) é um felino predador. Há muitos diálogos, sempre rápidos e afiados, tudo tão bem dirigido por George Cukor que mesmo sendo um filme sem ação e longo (133 minutos) não há trechos monótonos ou desnecessários, todas as cenas levando a trama para a frente sem truques para aumentar artificialmente a duração.
Há coisas curiosas, como o já citado elenco exclusivamente feminino e um desfile de moda colorido frente ao resto do filme todo em preto e branco, o que provavelmente foi feito por conta do custo (em 1939 o colorido não era tão difundido e portanto muito caro), mas que funcionou como linguagem cinematográfica ao demonstrar o mundo mágico e destacado do real representado pela moda para aquelas mulheres.
George Cukor era conhecido pela sua sensibilidade para tratar de temas do universo feminino, os chamados woman's film (filme focados nas mulheres e direcionado para elas) - ele e Douglas Sirk são os mais prolíficos diretores desse subgênero do melodrama, porém As Mulheres se destaca por não conter apenas drama, mas também frases inteligentes que rapidamente definem um personagem (uma delas diz "não tenho tempo para ser feliz, tenho 3 filhos"), elementos de screwball comedy (comédia maluca) como os diálogos extremamente rápidos e personagens amalucados além de um grande elenco muito bem dirigido. A forma como os seus temas são tratados pode causar estranheza hoje, nem tanto por corresponderem ou não à verdade mas pela hipocrisia que cresceu de forma exponencial desde 1939.
Nota: 5/5


Fabio Consiglio



Se você gostou desse texto ou segue o blog diariamente, agora há a opção de possuir a compilação de todos os filmes do 1o. semestre em formato de livro:

Comentários

Postagens mais visitadas