Um filme por dia 2017 - 17/12 - Apocalypse Now (1979)



Título original: Apocalypse Now
Megalomaníaco e genial, Apocalypse Now é tão exagerado e superlativo como o seu objeto de escrutínio, a Guerra do Vietnã.
Apocalypse Now não se contenta em mostrar os horrores da guerra, mas também demonstrar como o Vietnã foi transformado em um parque de diversões onde os jovens soldados norte-americanos pudessem extravasar todo o seu sadismo sem consequências. Foi o primeiro filme que mostrou a guerra como se fosse um videogame, com os soldados matando sem remorso seres objetificados, os vietcongues e civis, todos misturados já que para os soldados americanos todos os amarelos tinham a mesma face.
A trama desenvolve-se em torno da missão do Capitão Willard (Martin Sheen), designado para encontrar e eliminar o Coronel Kurtz (Marlon Brando), oficial que abandonou o exército e passou a liderar um grupo de rebeldes na mata, sem apoiar nenhum dos dois lados da guerra.
Kurtz, sempre mostrado com a face iluminada de forma a ficar entre a sombra e a luz, é perseguido por considerarem que ele enlouqueceu, mas na verdade ele foi o único a ter a coragem e o discernimento de assumir que só se combateria a loucura representada pelo circo montado no Vietnã com mais loucura e isso pode ser constatado pelos antecessores de Willard, que não apenas deixaram de cumprir a missão como foram seduzidos pela verdade de Kurtz e passaram a segui-lo. E a palavra circo é para ser entendida quase literalmente, já que para manter funcionando a feira de atrações no Vietnã vários shows e eventos eram patrocinados pelos oficiais, como a visita de playmates, festas e até o surfe em uma praia sendo atacada, esse último mostrado em uma cena antológica.
Já que citei cenas antológicas, não posso deixar de lembrar dos helicópteros atacando ao som de Cavalgada das Valquírias, sequência que pode ser interpretado de várias formas como a guerra transformada em espetáculo, o já citado sadismo com os soldados divertindo-se com a morte e a destruição e até uma alusão ao nazismo - Wagner, compositor da Cavalgada, era o compositor favorito de Hitler.
A conclusão de Apocalypse Now aparentemente não deixa espaço para dúvidas ou interpretações (ATENÇÃO SPOILER) com Willard matando Kurtz mas na verdade tudo pode ser visto como um plano de Kurtz para eleger um sucessor. Willard pintou o rosto com o mesmo padrão usado por Kurtz e após ter matado o Coronel os nativos o saudaram como novo líder; há também o paralelismo feito através da montagem entre a morte da vaca e a de Kurtz, como se os dois tivessem sido sacrificados de forma ritualística por um objetivo maior: a vaca para tornar-se alimento e Kurtz para tornar-se lenda e inspiração.Willard então parte para avisar os seus superiores do sucesso da sua missão ou para difundir e expandir os ideais de Kurtz? Qualquer que seja o destino de Willard, as últimas palavras de Kurtz traduzem o sentimento que as escolhas da humanidade invariavelmente provocam: o horror, o horror.
Nota: 5/5


Fabio Consiglio



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