Um filme por dia 2017 - 22/12 - Totó e as Mulheres (1952)



Título original: Totò e le donne
Totó e as Mulheres consegue manter a graça do começo ao fim e só isso já seria motivo para destacá-lo dentro do gênero comédia. Mas não e só isso: bem feito, com ótimas interpretações e com uma linguagem moderna até para os dias atuais, a obra não é só uma comédia engraçada mas um grande filme.
Na trama episódica, Antonio Scaparro (Totó) conta pequenas estórias de sua vida e critica as mulheres e o comportamento feminino, tudo amarrado pela sua atual vida de casado e o noivado da filha. Há grandes ideias de composição fílmica, como o inicio mostrado como um filme mudo, com letreiros explicativos e sem falas, já que nesse momento Antonio está com sua esposa que supostamente o reprime - o nosso herói só ganha voz quando isola-se no sótão e começa a contar suas estórias, derrubando frequentemente a quarta parede e falando diretamente com o público. Ou a divisão do filme em dois tempos, o primeiro e o segundo tempo como em uma partida de futebol, o que faz sentido em um filme machista (falarei sobre isso adiante) como Totó e as Mulheres.
As estorietas contadas por Scaparro são hilárias e carregadas de humor nonsense e sombrio, com diálogos rapidíssimos e brincando com o drama de doenças e até da morte, em uma mistura de comédia e tragédia tipicamente italiana. Há em Totó e as Mulheres uma mistura genial de screwball comedy (comédia maluca), comédia de costumes e do já comentado nonsense, com discussões e diálogos que lembram (ou por que não inspiraram já que é mais antigo) o grupo de humor inglês Monty Python.
O machismo de Totó reflete o modelo mental do homem italiano médio da década de 50 (e provavelmente vigente ainda hoje em dia), mas ele não se traduz em superioridade masculina, pelo contrário, a obra ilustra os homens como indivíduos mimados que reclamam das mulheres mas dependem delas, como a relação de crianças com suas mães. Na sua conclusão, ao desvendar o outro lado da história, a visão feminina da vida, mostra que os defeitos e idiossincrasias não são exclusivas de um sexo ou de outro. Para Totó (e para os italianos aos quais me incluo) as pessoas, independente da sua orientação sexual, são todas insuportáveis; só julgamos suportáveis aquelas que ainda não conhecemos suficientemente bem.

Nota: 4/5


Fabio Consiglio



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